Plataforma digital avisará em curto prazo sobre queimadas na Amazônia

Pesquisadores da UFRJ ampliam alcance do sistema Alarmes, ferramenta que ajudará os órgãos de prevenção e combate a incêndios em três biomas brasileiros

O Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais (Lasa) do Instituto de Geociências (Igeo/UFRJ) ampliou, na sexta-feira (24/6), o alcance da plataforma Alarmes (Alerta de Área Queimada com Monitoramento Estimado por Satélite), que passa agora a emitir alertas de região queimada em tempo quase real em toda a Amazônia brasileira.  Na totalidade, o sistema abrange uma área que representa, aproximadamente, 75% do território brasileiro e emite alertas diários para facilitar ações de prevenção e de fiscalização pelos órgãos ambientais, mas, principalmente, de combate a incêndios no momento em que eles estão ocorrendo. Os informes em curto prazo contribuem para que as equipes de gestão e combate tomem melhores decisões.

O sistema é pioneiro no Brasil, mas já foi testado em diversos tipos de vegetações espalhadas pela Oceania, pela América do Norte e pela África. Após um ano do lançamento da plataforma acompanhando apenas o estado de Roraima, o Pantanal e o Cerrado, o Sistema Alarmes possibilita agora aos usuários escolher o bioma amazônico, constituído em grande parte por florestas tropicais. São mais 498 municípios, 285 terras indígenas e 298 unidades de conservação acompanhados, que ajudarão os brigadistas a tomarem as melhores decisões para proteger 1.082 novas áreas individuais, distribuídas em 4,2 milhões de km².

Os alertas diários detectam os territórios queimados de três biomas, que somam 1.570 municípios, 362 terras indígenas, 637 unidades de conservação, 17 bacias hidrográficas (Cerrado) e uma região de plano operativo (Pantanal). “A consolidação do sistema e o contato direto com o usuário permitem a implementação de melhorias, de forma a oferecer uma plataforma mais abrangente”, informou a professora Renata Libonati, coordenadora do Lasa.

De acordo com a pesquisadora do Lasa Julia Rodrigues, o mapeamento da Amazônia ainda é um protótipo em constante aprimoramento. Usuários em campo irão ajudar a calibrar o sistema ao longo dos próximos 12 meses. Pessoas que trabalham no CNPq/Prevfogo, no Ibama, no ICMBio, em unidades de conservação, em terras indígenas ou em outras instituições oficiais vão contribuir para aumentar a confiabilidade e credibilidade da plataforma. “Mapear, com êxito, áreas queimadas via satélite neste bioma é um desafio, pois há fatores ambientais que dificultam a observação da superfície”, afirmou.

Atualmente, os dados do sistema Alarmes são gerados com resolução espacial de 500 metros e utilizam imagens e focos de calor do sensor Visible Infrared Imaging Radiometer Suite (VIIRS), combinados com técnicas de aprendizado profundo de máquina (deep learning), um ramo da inteligência artificial. Além disso, o sistema fornece duas modalidades de mapeamento: alertas em tempo quase real (NRT, do inglês near real-time) e histórico, que são os dados anuais oficiais. A plataforma conta, ainda, com opção de envio dos alertas por e-mail.

Uma nova ferramenta vai armazenar fotografias obtidas in situ de queimadas, incêndios florestais e seus impactos, criando uma grande rede colaborativa de dados para validação do sistema e compreensão do regime de fogo de cada região. Os pesquisadores a batizaram de Fogoteca e, segundo eles, há expectativa de que, durante ou após a ocorrência de fogo, registros poderão ser compartilhados e catalogados os eventos em andamento, cicatrizes pós-fogo, danos à fauna, flora e infraestrutura, divulgação de ações e resultados de queimas prescritas (incêndios provocados para manejo de áreas). “A Fogoteca vai recolher as imagens georreferenciadas, que ficarão disponíveis no sistema, outra forma de validar os nossos alertas e todos os mapeamentos”, explicou Julia Rodrigues.

As informações, segundo Renata Libonati, são importantes não apenas para validar, mas também para criar um banco de dados sobre a origem dos incêndios. Os especialistas capacitados das equipes de combate aos incêndios poderão inserir, junto com as fotografias, se o fogo começou de forma natural, acidental ou intencional. “Essas informações das origens permitem análises estatísticas conjuntas que identificarão as reais causas dos incêndios em uma escala maior, observada pelos satélites e confrontadas com a observação de campo. A Fogoteca vai proporcionar a integração de dados de diversas instituições, que poderão compartilhar seus registros e relatos no contexto do fogo na vegetação em um único lugar. O acervo digital também vai contribuir para outras áreas de conhecimento, ao apontar os prejuízos acarretados à fauna e à flora da região queimada”, afirmou a coordenadora do Lasa.

“O sistema Alarmes da UFRJ apresenta dados imediatos da área que está sendo consumida pelo fogo, quase em tempo real, que ajudam na tomada de decisões no local. Os contingentes, materiais e equipamentos são deslocados de forma mais precisa. Além disso, este curto prazo permite estudos de perícia mais ágeis. É uma ferramenta operacional de combate ao fogo. O Ibama, há muito tempo, precisava dela e, com a pesquisa desenvolvida na Universidade, agora tem algo útil para toda a sociedade”, disse Renata Libonati.

No ponto de vista da coordenadora do Lasa, com a aproximação dos órgãos operacionais, que abriram editais convocatórios de pesquisa para as universidades, é possível entender as demandas para resolver problemas do cotidiano de quem está em campo.  O monitoramento do Alarmes é apoiado também por ONGs, como o Greenpeace, Wetlands International Brazil, Instituto do Homem Pantaneiro (IHP) e recebe suporte do Ministério Público de Mato Grosso do Sul (MPMS) e do Critical Ecosystem Partnership Fund (CEPF) − iniciativa conjunta de conservação da biodiversidade, formada pela L’Agence Française de Développement, Conservation International, União Europeia, Fundo para o Meio Ambiente Global, Governo do Japão e Banco Mundial.