O evento busca uma nova forma de pensar museus e valoriza a convergência entre o saber popular e a ciência
Por Clara Kury – Setor de Comunicação da Decania do CT
Em tempos de inteligência artificial e a constante substituição da mão de obra humana pelas máquinas, o primeiro encontro do Museu Vivo do Mar da UFRJ traz o homem e a natureza para o centro das discussões que envolvem cultura e ciência. Sendo uma construção coletiva entre pescadores, cientistas, educadores e comunidades, o evento é um apelo para aqueles que vislumbram a Baía de Guanabara enquanto Patrimônio Natural. Situado às margens da própria Baía de Guanabara, no Hangar Náutico da UFRJ, o espaço sediou uma celebração repleta de saberes, como a pesca artesanal, a construção de embarcações, tecnologia sustentável e muito mais. Além disso, o projeto integrou a 23ª Semana Nacional dos Museus.
Mas afinal de contas, o que é a Semana Nacional de Museus?
Esta última semana marcou a temporada cultural coordenada pelo Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM) que acontece todo ano em comemoração ao Dia Internacional dos Museus, celebrado em 18 de maio, sendo assim, é claro que o Museu Vivo do Mar não poderia deixar a data passar em branco.
O evento aconteceu no dia 15 de maio e logo pela manhã os convidados participaram de um mutirão de limpeza. Após a conclusão da atividade, houve o início da cerimônia de abertura que contou com a presença de Felipe Addor, diretor do Núcleo Interdisciplinar para o Desenvolvimento Social (NIDES); Ana Lúcia Vendramini, coordenadora do programa Tecnologia Social e Ciências do Mar do Nides; Paulo César Maia, coordenador do Grupo de Educação Multimídia do Nides; Ricardo Mello, do projeto PAPESCA/Nides; Rosana Torres, coordenadora do projeto UFRJMar; Vera Mangas, representante do IBRAM; Quêner Chaves dos Santos, representante do Ministério da Pesca e Aquicultura; Claudia Carvalho, diretora do Sistema de Museus, Acervos e Patrimônio Cultural da UFRJ; entre outros convidados.
Após a solenidade, os visitantes participaram de uma programação com diversas mostras e relatos de pesquisadores da área, entre elas:
Relatos de experiências e bases conceituais da museologia social
Davi Rodrigues Germinal/ PAPESCA
Eunice Batista Laroque/PPGHS/UERJ
Fellipe Redó – Mestrando pelo PPGTDS/NIDES
Jandira Rocha de Oliveira – Ponto de Memória do Museu da Agroecologia
Vera Mangas – IBRAM/MinC
Exposições Temporárias
Mostra de embarcações no Hangar Náutico: Com a equipe do Desafio Solar Brasil e o Estaleiro Escola da Baía de Guanabara
Mostra de ferramentas de construção naval artesanal: Com Alberto Daniel, colaborador do Estaleiro Escola da Baía de Guanabara
Mostra de imagens da Baía de Guanabara: Com Ademas Costa – Acervo audiovisual dos Maretórios e com o fotógrafo Márcio Menasce – Fotolivro “Em Concha”
Mostra de protótipos e painéis de montagem da Escola Popular de EcoDesign Povos do Mar: Com Elizeu Gonçalves e os alunos da escola


Conheça o trabalho de alguns dos colaboradores
Alberto Daniel, também conhecido como Beto, é um colecionador de ferramentas da carpintaria naval artesanal. Além das ferramentas manuais como o enxó (ferramenta de carpintaria que serve para desbastar peças grossas de madeira, composta por um cabo pequeno e por uma lâmina curva) e formões (lâmina de metal afiada, geralmente de aço, presa a um cabo, que pode ser de madeira, plástico ou metal, utilizado por carpinteiros, marceneiros e outros profissionais que trabalham com madeira). Beto também guarda esboços de embarcações, algumas delas ele já tirou do papel. Ele também foi colaborador do projeto Estaleiro-Escola da Baía de Guanabara, uma iniciativa cujo foco é contribuir para o ressurgimento da cadeia produtiva da construção de embarcações pesqueiras.
Durante a Mostra do primeiro Encontro do Museu Vivo do Mar, o público pôde conhecer esse acervo raro de Beto e ouvir as experiências de alguém que mantém viva a memória da construção naval artesanal.


Márcio Menasce é mestre em artes visuais pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro EBA/UFRJ. Formado em jornalismo e pós-graduado em fotografia. É professor do espaço A Casa – Fotografia e Arte Contemporânea, no Rio de Janeiro. Seu fotolivro “Em Concha” é um mergulho visual na Baía de Guanabara e mostra a vida dos catadores de marisco da região. A obra capta a realidade desses trabalhadores sob uma lente carregada de melancolia e resistência. O trabalho do fotógrafo é uma jornada visual sensível que foi capaz de cativar dezenas de pessoas que se mostraram interessadas na rotina resiliente dos maricultores.
Foto: Márcio Menasce, Fotolivro “Em Concha”

Já a Escola Popular de Ecodesign dos Povos do Mar é uma instituição que nasceu da união entre a Associação de Pescadores e Amigos de São Pedro (APASP), o NIDES/UFRJ e a Aldeia de Pesca de Piratininga, em Niterói. O grande foco da Escola Popular é capacitar as comunidades tradicionais para aplicar tecnologias de baixo impacto ambiental e, assim, fortalecer os arranjos econômicos locais de forma sustentável. O grupo marcou presença no evento com uma mostra de protótipos e painéis de montagem construídos pelos próprios alunos. Inovações como uma bicicleta que vira pedalinho, barco impulsionado por uma parafusadeira elétrica e esquema elétrico com fonte de energia fotovoltaica, são apenas alguns dos projetos da Escola Popular de Ecodesign dos Povos do Mar.