Grupo de Trabalho da UFRJ recomenda medidas imediatas de combate à pandemia

Atual situação é de altíssima gravidade, com iminente colapso do sistema de saúde e aumento do dano humano, social e econômico

Por Victor França – Fonte: www.ufrj.br

Nesta segunda-feira, 22/3, o Grupo de Trabalho (GT) Multidisciplinar para Enfrentamento da COVID-19 da UFRJ emitiu nota (leia aqui na íntegra) em que pontua a necessidade da adoção de medidas urgentes para que o “quadro de catástrofe seja revertido”, frente à escalada nacional de infecções e mortes pelo coronavírus e ao fato de o Brasil permanecer isolado “como o único país sem uma estratégia precisa de combate à pandemia”.

Veja as medidas recomendadas pelos pesquisadores da UFRJ:

  1. Intensificar as medidas de isolamento com as devidas medidas de transferência de renda, exigir o uso de máscaras e recomendar a necessidade de higienização das mãos.
    • Essas medidas comprovadamente diminuem a velocidade de transmissão do SARS-CoV-2, independentemente da variante viral que circula. Dessa forma, cobramos das autoridades federais, estaduais e municipais ações para que as medidas sejam amplamente divulgadas e reforçadas como prioridade, por meio de um discurso coerente por parte dos governos quanto às medidas de mitigação, aumentando a chance de cooperação de maior parte da população.
    • É imperioso que seja adotado sistema de proteção social, com apoio social aos mais vulneráveis, como transferências de renda direta e indireta na forma de auxílio emergencial, compatível com as condições materiais para a sobrevivência física e psíquica da população de baixa renda. Além dessas medidas, também é necessário subsídio direto e direcionado às pequenas e médias empresas, permitindo a manutenção de emprego enquanto durarem as medidas restritivas de movimentação. Essas medidas econômicas caracterizam-se como estratégias de saúde pública fundamentais para adesão à inevitabilidade de restrição de movimentação que, neste momento, é a única medida que permite salvar vidas.
  2. Instituir uma coordenação unificada para cooperação e atuação dos governos, em todos nos níveis, com a participação da sociedade civil, com as autoridades locais tomando essa responsabilidade para si.
  3. Oferecer serviços de transporte público em quantidade e qualidade compatíveis com o deslocamento seguro da população.
  4. Disponibilizar de forma transparente, consistente, fidedigna e atual os dados relacionados à evolução da pandemia para avaliar riscos e tomar decisões pertinentes em tempo adequado.
  5. Disponibilizar imediatamente vacinas para todos os grupos, o que deve ser a principal prioridade, pois essa é a principal forma de proteger a população.

Segundo os pesquisadores, que estão há um ano organizados em grupo de trabalho e debruçados sobre o tema, “a atual situação é de altíssima gravidade, pois estamos (novamente) às margens de um colapso do sistema de saúde”.

No Centro de Triagem e Diagnóstico para COVID-19 da UFRJ foi observado, nas duas últimas semanas, por exemplo, um aumento da positividade do RT-PCR dos casos sintomáticos: passou de 11,6% (semanas epidemiológicas 9 e 10 – de 21/2 a 6/3) para 20,1% (semanas epidemiológicas 11 e 12, de 7/3 a 20/3).

Fonte: Boletim Informativo do CTD-COVID-19 & LVM, 22/3/2021 | Arte: Victor França (Coordcom/UFRJ)

“É importante ressaltar que, nesse mesmo período, por meio dos resultados obtidos de RT-PCR, constatou-se um aumento da carga viral média estimada, o que representa risco de aumento de transmissibilidade e, consequentemente, potencial de explosão de casos nas semanas subsequentes, alertando para a relevância da intensificação das medidas de contingência”, alerta a nota.

“Por mais que os pesquisadores tenham contribuído com propostas cientificamente embasadas, as dificuldades impostas pela desorganização pública, as incompreensíveis atitudes de alguns gestores e os comportamentos de uma parcela da sociedade reduzem a eficácia de medidas tomadas de forma isolada”, destaca o texto.

De acordo com os cientistas da UFRJ, “o Brasil tem destoado das abordagens mais assertivas e resolutivas sugeridas e adotadas por países que apresentam resultados melhores no enfrentamento da pandemia. Consequentemente, o Brasil assume posição dianteira no cenário de casos e óbitos por COVID-19 e como território fértil ao surgimento de variantes do vírus, provocando uma rejeição internacional aos brasileiros e afetando, ainda mais, a nossa economia”.

Leia a nota aqui na íntegra.

O Grupo de Trabalho

Coordenado pelo professor Roberto Medronho, o GT da UFRJ tem buscado contribuir e motivar não apenas a UFRJ e seu ecossistema, mas todo o Brasil, com ações concretas e recomendações baseadas em evidências científicas, com o objetivo de diminuir o risco da pandemia. Os exemplos de iniciativas da UFRJ são muitos: o desenvolvimento de ventilador mecânico (VexCo), de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), álcool em gel, modelos preditivos (covidímetro) e sistemas de software, a síntese da proteína S com desenvolvimento de teste sorológico e vacina, Centro de Triagem e Diagnóstico, o atendimento psicossocial aos servidores e alunos da UFRJ, a assistência à saúde dos pacientes com acolhimento dos familiares, o plano de contingência, o Guia de Biossegurança, entre outras. O Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF), o maior do estado do Rio em volume de consultas, já atendeu mais de 1.600 pacientes com COVID-19, tendo mais de mil pacientes internados desde o início da pandemia e sendo um dos principais hospitais de referência para atendimento à COVID-19 no Rio de Janeiro.