Novas tecnologias, entre elas a inteligência artificial, prometem uma nova Revolução Industrial. Mas qual é o papel do ser humano nessa configuração?
Por Carol Correia – Fonte: www.ufrj.br
As cenas de filmes de ficção científica parecem cada vez mais reais: temos assistentes virtuais que desligam nossas luzes, videochamada na palma das mãos, carros autônomos, sistemas industriais cada vez mais automáticos e inteligentes. Na indústria 5.0, no entanto, a grande revolução é humana.
A digitalização da indústria, a flexibilização e adaptabilidade advindas do emprego cada vez maior de tecnologias baseadas em inteligência artificial (IA) são características da indústria 4.0. Porém, a sociedade já se vê diante do desafio de levar novos fatores em consideração. Resiliência, sustentabilidade e abordagem centrada nos humanos são conceitos recentemente agrupados em torno de um novo termo.
A indústria 5.0 continua a contar com tecnologias baseadas em inteligência artificial, só que elas precisam estar aderentes a princípios sociais. Uma mesa-redonda organizada pelo Fórum de Ciência e Cultura (FCC) em parceria com o Centro Brasileiro de Altos Estudos (CBAE) buscou analisar essa nova etapa e pensar como as tecnologias podem contribuir para a indústria brasileira.
João Carlos Ferraz, professor do Instituto de Economia (IE) da UFRJ, falou sobre a visão do economista com relação ao progresso técnico e à revolução tecnológica, principalmente sobre tecnologias-chave para solução de problemas, com a otimização do trabalho e diminuição de custos. Ferraz citou as pesquisas sobre o genoma, que, com os avanços tecnológicos, diminuíram de 100 milhões de dólares em 2001 para menos de 1.000 dólares em 2020, por análise.
Segundo dados apresentados pelo professor, ainda há um atraso muito grande na digitalização das empresas no país. “O Brasil tem 15,5% das empresas líderes nessa digitalização, 47,3% seguidoras e 37,2% estão defasadas. Esses números foram calculados considerando indicadores de presente, futuro e preparação para o futuro”, explica, mostrando dados como a velocidade da internet e o número de aparelhos.
Já Maria Luiza Reis, presidente da Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação (Assespro) e diretora executiva da Lab245, afirmou que a inteligência artificial tem impacto positivo na produção das empresas e na valorização de determinados tipos de emprego, mas, por outro lado, tanto a IA quanto outras tecnologias irão eliminar milhões de postos de trabalho. “Ela não vai substituir apenas o trabalho manual e de baixa qualificação, mas também o trabalho analítico que hoje emprega pessoas de excelente nível”, conta.
A professora do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa em Engenharia (Coppe/UFRJ)também enfatizou que a IA precisa ser benéfica,explicável, ter algum nível de autonomia e um comportamento justo. Dessa maneira, é necessário o uso responsável,que assegure preceitos básicos como a privacidade de dados.
Durante o debate, Ferraz afirmou que, como país, é necessário pensar quais são os desafios impostos e as soluções de cunho tecnológico que podem e devem ser aplicadas para mitigar e avançar sobre esses desafios. “Não é a inteligência artificial pela inteligência artificial, ou o robô pelo robô. Mas quais os desafios que queremos enfrentar.”
Com essas dificuldades impostas, pelo avanço tecnológico ou por outros fatores, é preciso refletir sobre como alocar recursos, tanto financeiros quanto humanos. “Nós precisamos pensar em questão de custos e valores, mas, principalmente, qual a sociedade que a gente quer”, conclui.
Veja a mesa-redonda na íntegra no canal do FCC no Youtube.