Biblioteca Francisca Keller/MN começa a ser reconstruída a partir de doações

Acervo do antropólogo Marshall Sahlins foi uma das contribuições mais expressivas

Por Taissa Menezes – Fonte: www.ufrj.br

Em 2/9/2018, o Museu Nacional (MN) sofreu um incêndio de grandes proporções que destruiu grande parte do acervo da instituição. Foi o caso de todo o material da Biblioteca Francisca Keller (BFK), que faz parte do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social (PPGAS) do museu e contava com mais de 40 mil volumes, todos perdidos. Após duas campanhas, iniciadas ainda em 2018, para a reconstituição do acervo e a reconstrução do espaço físico, a biblioteca ganha hoje novas perspectivas.

Para março de 2022, há a previsão da inauguração de um novo espaço físico, planejado pela professora e arquiteta Marina Correia, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU), com o objetivo de abrigar a BFK. Maior e mais bem distribuído que o anterior, com cerca de 300m², o novo local simboliza um dos resultados da campanha de financiamento coletivo “Livros vivos no Museu”, que foi liderada pela Associação Amigos do Museu Nacional e contou com a participação do cantor e compositor Caetano Veloso, da atriz Camila Pitanga e de outros artistas. Com doações oriundas de diversas partes do mundo, o movimento alcançou um valor de R$ 216 mil, montante aproximadamente quatro vezes maior que a meta estabelecida.

Da mesma maneira, a campanha para o recebimento de livros também foi expressiva. As contribuições chegaram de origens variadas, com a colaboração de pessoas físicas e jurídicas, como pesquisadores, artistas, universidades internacionais, editoras e outras instituições. Alguns destaques são os volumes recebidos da Editora da Universidade de Cambridge (Reino Unido) e da Embaixada Francesa, a campanha de doação organizada pela Universidade de Princeton (EUA) e a doação de aproximadamente 4.200 volumes realizada pelo antropólogo Marshall Sahlins.

 

Entrega de livros doados pela Editora da Universidade de Cambridge realizada no CFCH/UFRJ, Praia Vermelha, em 2019. | Foto: Divulgação BFK

O renomado pesquisador deixou, em testamento, todo seu acervo bibliográfico para a Biblioteca Francisca Keller, incluindo o valor destinado à realização do transporte dos volumes dos Estados Unidos para o Brasil. A decisão de realizar a doação póstuma já havia sido comunicada pelo antropólogo à direção do Museu Nacional ainda em novembro de 2018, dois meses após o incêndio. No entanto, a contribuição foi concluída apenas em abril de 2021, após seu falecimento, aos 90 anos.

Sahlins era professor emérito na Universidade de Chicago, onde lecionava desde 1973, e se destacava pelos estudos nas áreas de Antropologia e História. Com o apoio da equipe da Pró-Reitoria de Gestão e Governança (PR-6) para auxiliar a logística, o acervo do antropólogo chegou há pouco ao Brasil e agora segue para a fase de catalogação. Os livros doados farão parte de uma coleção que levará o nome do pesquisador, como uma forma de agradecimento e reconhecimento pela sua colaboração.

O antropólogo Marshall Sahlings. | Foto: Elkziz

“Como ele era uma pessoa de enorme prestígio, é uma doação que tem um significado especial porque mostra a confiança no nosso trabalho e faz com que outras contribuições sejam possíveis. É uma dessas doações-chave”, explicou Carlos Fausto, professor do PPGAS que esteve à frente das duas campanhas para reconstrução da BFK. Ele explica que falta pouco para que a biblioteca volte a funcionar na prática: atualmente acontecem as etapas de catalogação e tombamento dos livros recebidos, enquanto se encaminha o término da reforma do prédio da Biblioteca Central do MN, que já está com 55% das obras concluídas.

Desde 2018, mais de 30 mil volumes já foram arrecadados para o acervo da BFK. No entanto, o professor acredita que após sua reabertura, com uma nova campanha, esse número pode chegar rapidamente a 50 mil, o que faria com que a biblioteca voltasse a ser o maior acervo da América do Sul na área de Antropologia. Para Fausto, isso é motivo de celebração, principalmente devido à forma como o processo se deu: contando com a colaboração de pessoas e instituições. “É um projeto radicalmente público e inclusivo”, defende ele, enquanto torce para que a reinauguração da BFK, em março, possa se dar “com pompa, circunstância e sem pandemia”.