Animais de estimação: adoção, saúde mental e família

Pesquisa aponta que a adoção de pets se torna cada vez mais comum e cresceu durante a pandemia

Por Tassia Menezes e Bianca Ottoni – Fonte: www.ufrj.br

Também chamados de pets, os animais de estimação têm sido cada vez mais presentes nas residências brasileiras, principalmente nos últimos dois anos, em virtude da pandemia de covid-19. Segundo dados da pesquisa Radar Pet 2021, realizada pela Comissão de Animais de Companhia (Comac) do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para a Saúde Animal (Sindan), 30% dos entrevistados abrigaram pets durante o período de isolamento social. Do total da amostra, 23% passaram por esse processo pela primeira vez.

O processo de tutoria, como é chamado o ato de ser responsável por animais de estimação, está cada vez mais associado a uma prática de adoção, como mostra o mesmo levantamento. Apesar de a cultura de aquisição de cães e gatos seja diferente e a adoção seja mais frequente no segundo caso, o modelo de regate, e não de compra, tem sido a tendência para as duas situações.

É o caso da Ana Carolina Correia, jornalista formada na Universidade Federal do Rio de Janeiro e servidora pública da instituição, que atualmente é tutora de dois gatos. Ambos adotados, Ziggy chegou há quase três anos e Estrela há quase dois, sendo resgatada no período da pandemia. Ela conta que foi necessário um processo de adequação entre eles, o que aconteceu de forma mais segura pelo fato de estar trabalhando na modalidade remota, na época.

Contra a compra e venda de animais, Ana Carolina relata que o acompanhamento de perfis de abrigos e protetores de animais nas redes sociais auxiliou no processo de adoção responsável dos seus pets e que Ziggy chegou no momento certo, quando ela havia sido diagnosticada com transtorno depressivo-ansioso e fibromialgia.

Após se ver em depressão, Ana Carolina adotou dois gatos: Ziggy (foto 1) e Estrela (foto 2) | Foto: Acervo


Pets e saúde mental

Em 2019, a jornalista entrou em depressão. Sem tratar a saúde mental como tabu, ela sempre buscou os profissionais indicados e usou os medicamentos recomendados. Mesmo reconhecendo a enorme ajuda que é ter o acompanhamento correto, ela ressalta como a presença dos seus pets diariamente lhe dava ânimo nesse processo. “Quando comecei a cogitar a adoção, conversei com meu médico e minha psicóloga, e os dois foram totalmente favoráveis à ideia. Claro que sei que foi uma combinação de tratamento psiquiátrico, psicológico, apoio da família, dos amigos e do trabalho, mas, para mim, a adoção foi o símbolo da melhora”, revela Ana Carolina.

Bernard Rangé, professor aposentado do Instituto de Psicologia da UFRJ, destaca que existem diversas pesquisas que mostram como os animais de estimação auxiliam no melhor bem-estar daqueles que convivem com eles. “Enquanto profissional, se você tem um paciente deprimido, você pode averiguar se ele tem um cão, um gato… Muitas vezes, estabelece-se uma relação familiar ali, em que eles se sentem mesmo como mães, pais e até avós dos pets”, explica.

Esse ponto também é abordado na pesquisa Radar Pet, já que, entre as edições de 2019 e 2021, se percebeu que o percentual de pessoas que consideram seus pets como filhos cresceu de 24% para 31% entre os donos de cães. Já em relação aos donos de gatos, o percentual permaneceu o mesmo (27%).

Demonstrando essa tendência entre alguns tutores de não considerar seus pets apenas  animais de estimação, Ana Carolina conta como mudou os parâmetros de pensar acerca de ter filhos, escolha que, por enquanto, pretende deixar para o futuro. Ainda assim, a jornalista reconhece a grande diferença entre a sua relação com os gatos e a maternidade:

“Ser mãe envolve uma série de questões sociais que não podem ser comparadas com a tutoria, mesmo que responsável e apaixonada, de um animal. Além disso, é importante compreender que eles são isso: animais. E merecem ser respeitados e cuidados da maneira correta para sua espécie, sem buscar uma humanização que não cabe”

Ana Carolina Correia

Por fim, Ana Carolina destaca que, além do apoio emocional e afetivo que seus pets representam, essa relação deu espaço ainda a um novo interesse. “Também me tornei muito mais engajada, apoiando ONGs, abrigos e protetores de animais, além de ter me tornado voluntária em um projeto que recolhe tampinhas para reciclagem e destina o dinheiro para a castração”, conclui.

Este texto é resultado das atividades do projeto de extensão “Laboratório Conexão UFRJ: Jornalismo, Ciências e Cidadania” e teve a supervisão da jornalista Tassia Menezes.