Com dois anos de atraso, Censo 2022 busca visão macro de quem somos

Doze anos depois, novo levantamento deve ajudar a traçar panorama de mudanças na população

Por Conexão UFRJ – Fonte: www.ufrj.br

Em 2020, o auge da pandemia do novo coronavírus impediu o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de efetuar o então programado censo demográfico, rompendo a expectativa de sua realização a cada início de década. Dois anos depois, mais de 200 mil profissionais estão em campo na empreitada da execução do décimo terceiro Censo Demográfico do país, que tem como intuito visitar cerca de 89 milhões de endereços, em mais de 5 mil municípios.

Desde 1/8, recenseadores, supervisores e agentes censitários estão envolvidos nesta que é uma das mais complexas e grandiosas operações estatísticas do mundo. No entanto, a iniciativa é apenas o primeiro passo para obter dados gerais sobre a população do país e suas condições de vida, o que pode ser explicado com os modelos de questionário disponíveis.

O primeiro, chamado de Básico, conta com 26 questões que envolvem informações sobre domicílios e seus moradores: características da moradia, identificação étnico-racial, educação etc. Já o segundo, denominado Amostra, contém 77 perguntas, incluindo as já presentes anteriormente e outras com temáticas como núcleo familiar, migração e deficiência. A proporção de aplicação do segundo questionário é de 11%, enquanto a do primeiro é de 89%.

É apenas na Amostra que aparecem perguntas sobre religião, enquanto sexualidade e identidade de gênero ainda não são abordadas no levantamento.  Apesar disso, segundo o cientista político e sociólogo da UFRJ, Paulo Baía, o censo é muito eficaz e se configura como o principal banco de dados para outras pesquisas, como a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad), por exemplo. Esses e outros levantamentos são capazes de realizar um aprofundamento a partir das visões macro obtidas a partir do censo.

“Como o censo está sendo realizado em condições atípicas, o IBGE fez um questionário pequeno e econômico. Então, creio que em 2030 haverá um número maior de perguntas para os 89% e os 11%. Deve ter o triplo de questões para que a gente tenha o que eu chamo de tomografia mais realista da situação macro brasileira”, defende Baía.

Uma mão segura um celular onde aparece o aplicativo do Censo 2022
Foto: Tânia Rego/ Agência Brasil

 

Mudanças na população

Ao longo das décadas, além do crescimento da população brasileira, têm-se observado transformações em dados como o da cor da pele, por exemplo. De 2000 para 2010, o número de pessoas brancas diminuiu de 53,7% para 47,7%, enquanto pretos e pardos contaram com aumento: de 6,2% para 7,6% e de 38,5% para 43,1%, respectivamente. Assim, o número de pessoas negras, que consiste na união dos últimos dois grupos, pode ser entendida como maioria no país.

O último Pnad, divulgado em 2016, indica que o aumento deve seguir o mesmo rumo no censo deste ano. Entre 2012 e 2016, a população brasileira cresceu 3,4%, enquanto o número de pardos e negros subiu 6,6% e 14,9%, nesta ordem. Para Baía, o que ajuda a explicar esse fenômeno é o que ele chama de “retorno da autoestima”. Sendo uma questão autodeclaratória, a mudança demonstra que mais pessoas, que antes se identificavam brancas, hoje não se veem mais assim.

“Nos últimos 30 anos, os movimentos negros e políticos em defesa dos afrodescendentes e a própria pressão para que se colocasse isso no censo fizeram com que pessoas que se declaravam brancas ou de outra raça ou cor passassem a se identificar como negras”, explica o sociólogo.

Da mesma maneira, lideranças de religiões de matriz africana têm se posicionado ao defender que seus seguidores não hesitem em se autodeclarar,  pois esses movimentos sofrem um apagamento em virtude da intolerância religiosa e um aglutinamento, sendo considerados, muitas vezes, a mesma coisa. Ele explica que muitas pessoas de umbanda ou candomblé se declaram como espíritas ou até mesmo católicas, devido ao preconceito atrelado ao racismo.

No Censo de 2010, o número de pessoas pertencentes a religiões como umbanda e candomblé representava apenas 0,3% da população. Enquanto isso, católicos eram 64,6%; evangélicos, 22,2%; e espíritas, 2%. O pesquisador aponta ainda que podemos esperar um grande aumento no número de pessoas de religiões protestantes nos dados do censo em andamento, confirmando processo de alta.

A necessidade de as pessoas se sentirem confortáveis e à vontade para abrirem suas casas e falarem sobre si é um dos pontos destacados pelo cientista político. Para ele, quanto mais o censo for divulgado, melhor – já que a população precisa estar ciente do processo para poder participar e colaborar com dados tão relevantes. “A metodologia do IBGE é eficaz e consistente. O censo é necessariamente macro e sua existência é fundamental”, conclui.

Com previsão de realização até o princípio de novembro, além da coleta presencial, neste ano o IBGE disponibiliza a possibilidade de realizar os questionários pela internet ou por telefone. Além disso, por segurança, é possível verificar a identidade do recenseador pelo site Respondendo ao IBGE ou pela Central de Atendimento ao Censo, no número 0800 721 8181. Participe desta iniciativa e a divulgue!