Laboratório da UFRJ compara as queimadas na região pantaneira dos dois últimos anos e aponta redução significativa de áreas atingidas pelo fogo
Por Júlia Souza – Fonte: www.ufrj.br
O Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais (Lasa) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) publicou, no início deste mês, o relatório final do monitoramento por satélite de regiões do Pantanal afetadas pelo fogo em 2022. Segundo o documento, as queimadas reduziram em 83% em comparação ao ano anterior. O acompanhamento é realizado pelo sistema de Alerta de Área Queimada com Monitoramento Estimado por Satélite (Alarmes), desenvolvido para atuar como um aviso rápido sobre a extensão, localização e data de ocorrência das áreas queimadas.
Além de mapas comparativos das regiões afetadas, a nota também apresenta dados relacionados às queimadas em Unidades de Conservação (UCs), Regiões de Interesse (ROIs) e Terras Indígenas (TIs), com destaque para a terra indígena Kadiwéu, que teve um dos menores registros desde 2012, após três anos consecutivos com o total acima de 200.000 hectares (ha). A pesquisadora do Lasa Julia Rodrigues afirma que, de acordo com a série histórica de monitoramento do Alarmes, que se iniciou em 2012, este foi o terceiro menor registro anual do bioma e representa 2% do seu território. “Em média, o bioma queima 8%, então em 2022 ficou abaixo do esperado. Além disso, em relação aos três últimos anos, nos quais tivemos entre 1,6 e 3,8 milhões de hectares queimados, foi um ótimo resultado”, completa.
Quanto às causas para a redução registrada, Julia afirma que os fatores que contribuíram para isso em 2022 ainda não foram contabilizados. No entanto, alguns aspectos podem ser considerados. “É bem provável que esteja relacionada aos maiores esforços de conscientização, planejamento e recursos para prevenção e combate aos incêndios florestais no Pantanal, após a tragédia de 2020, à redução das chuvas e à pressão antrópica”, diz ela. No ano de 2020, a região pantaneira teve 26% de sua área afetada pelo fogo, cerca de 38 mil quilômetros quadrados atingidos. Segundo estudo realizado por pesquisadores de 14 instituições brasileiras e internacionais, como a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e universidades federais como a UFRJ, 16.952 milhões de animais vertebrados foram mortos pelas queimadas.
Os dados da nota também apontam retrocessos. Apesar de não ter registrado área queimada em 2021, o Parque Nacional do Pantanal Matogrossense voltou a queimar em 2022, com ocorrências registradas em novembro e dezembro. O local tem uma área de 135 mil ha e abrange grande biodiversidade, com variadas espécies de plantas e animais.
A nota técnica é importante para sintetizar as informações do monitoramento do Alarmes e divulgar os eventos de queimadas do Pantanal à sociedade, além da comunidade local. No sistema, as áreas queimadas são acompanhadas de forma automática utilizando imagens de satélite, focos de calor e técnicas de aprendizado profundo de máquina (inteligência artificial). De acordo com Julia, os alertas diários sempre utilizam dados dos últimos dois meses e, para consolidar o produto anual, ou seja, o histórico, o algoritmo utiliza dados de todos os dias do ano.