Projeto de extensão realizou uma formação para 50 jovens escritores do Rio de Janeiro
Por Tatiane Alves (Conexão UFRJ) – Fonte: www.ufrj.br
Uma cerimônia de formatura marcou o encerramento do curso Formação de Escritores Machado Quebradeiro, iniciativa inovadora da Universidade das Quebradas (UQ), realizada em parceria entre a Academia Brasileira de Letras (ABL) e a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). O evento, que homenageou a memória de Machado de Assis, ocorreu na terça-feira, 12/11, no Auditório Marcos Vilaça, na sede da ABL.
A Universidade das Quebradas é um Laboratório de Tecnologia Social conhecido por sua metodologia de troca de saberes e experiências em contextos multiculturais, e tem se desenvolvido contínua e ininterruptamente desde 2009, atendendo a mais de 800 participantes. Neste ano, com aulas semanais ao longo de oito meses, o curso reuniu 50 alunos das periferias cariocas em uma iniciativa inspiradora. Fruto de parceria entre a Universidade das Quebradas, criada no Programa Avançado de Cultura Contemporânea da Faculdade de Letras (FL) da UFRJ, e o Instituto Odeon, o projeto mergulhou na vida e obra de Machado de Assis (1839-1908), e contou com a correalização da Festa Literária das Periferias (Flup) e da ABL. Oficinas, palestras e seminários abordaram o legado do escritor sob novas perspectivas, incentivando a produção literária e ressignificando narrativas.
O curso ofereceu uma nova perspectiva sobre a vida e obra de Machado de Assis, interpretando-as sob uma ótica racial. As aulas foram ministradas por escritores como Jefferson Tenório, Geovani Farias e Marcus Faustini, além de pesquisadores da obra machadiana, como Ana Flávia Magalhães Pinto e Paulo Dutra. Os estudantes também assistiram a palestras de membros da ABL, entre eles Lilia Schwarcz e Ailton Krenak, que atuou como padrinho da turma.
Celebração
A cerimônia de diplomação iniciou-se com o juramento solene e contou com uma mensagem de Merval Pereira, presidente da ABL, que ressaltou em vídeo a importância de aproximar o autor dos jovens e da sociedade. “Levar Machado de Assis aos estudantes e ao público em geral é uma obrigação da Academia”, afirmou Pereira, reforçando o valor da inclusão cultural.
Ivana Bentes, pró-reitora de Extensão da UFRJ, representou a Universidade e levou o público às lágrimas com seu discurso. “Essa ação de extensão da UFRJ nos apresenta a universidade do futuro. A Universidade das Quebradas sempre foi um laboratório de ideias para a universidade que desejamos. O Machado Quebradeiro nos inspira a quebrar os muros, os preconceitos, as burocracias. A extensão universitária vai além das salas de aula, e saímos dessa experiência conhecendo a força da extensão universitária brasileira”, destacou Ivana.
O ponto alto da cerimônia aconteceu com a entrega dos diplomas aos “descendentes de Machado de Assis”. O termo é usado, em sentido simbólico, para se referir aos alunos que se inspiraram no legado do escritor. O momento foi de grande emoção e representatividade. Para Heloísa Teixeira, idealizadora do projeto, o evento simbolizou não apenas um marco coletivo de empoderamento, mas também um momento histórico para todos os envolvidos.
“Fomos ambiciosos: escolhemos o maior escritor brasileiro, Machado de Assis, que tem a peculiaridade de ter nascido preto e morrido branco”, afirmou Teixeira. “Durante o curso, revisitamos o autor e o processo de branqueamento que ele sofreu, e fizemos uma leitura crítica, revelando um Machado que não se distanciou da questão racial, mas que, em todos os detalhes, se posiciona como um crítico da sociedade imperial branca”, ressaltou.
Representando os formandos, Pedro Araújo, jovem negro e trans, emocionou a plateia ao destacar, em seu discurso, a relevância da perspectiva racial na obra de Machado de Assis: “O embranquecimento de Machado de Assis apagou chaves de leitura de sua obra sob a ótica racial, o que fez, por séculos, gerações de brasileiros não o reconhecerem como um aliado”.
O estudante também agradeceu aos orientadores do curso pela colaboração na construção dos textos que integrarão uma antologia a ser publicada em 2025 pela Flup. Araújo finalizou com uma reflexão marcante: “Somos os sonhos dos nossos ancestrais e herdeiros legítimos de Machado de Assis, fundador dessa casa”.A partir de agora, a Universidade das Quebradas e seu formato itinerante se preparam para 2025. O projeto de formação cultural segue para as cidades de Belém, no Pará, e São Luís, no Maranhão, e pretende trazer Ariano Suassuna como escritor protagonista da edição.