Do resíduo ao recurso

Empresa incubada pela UFRJ busca oferecer alternativas verdes a resíduos da indústria

Por Conexão UFRJ – Fonte: www.ufrj.br

Oferecer destino sustentável aos resíduos da indústria de refino é um dos caminhos para um futuro mais verde. Esse é um dos objetivos da Wastecraft – em tradução livre, waste: “resíduo”/ craft: “artesanato” –, uma startup incubada pela Inyaga, Incubadora de Negócios de Impacto Social e Ambiental da UFRJ. As startups são empresas inovadoras, geralmente em estágio inicial, que buscam desenvolver soluções escaláveis e de alto impacto, muitas vezes com base em tecnologia ou novos modelos de negócio. Ao ser incubada, uma empresa em desenvolvimento recebe suporte e recursos, o que a ajuda a crescer e se consolidar. Essas instituições fornecem espaço físico, orientação, treinamento e acesso a redes de contato.

A Wastecraft é uma empresa de engenharia e consultoria de base tecnológica, dedicada à transformação de resíduos em insumos e produtos de alto valor agregado. Sua atuação combina sustentabilidade, inovação e impacto socioambiental. A startup concentra esforços em três frentes principais: reciclagem química de plásticos, valorização de resíduos industriais e intensificação de processos sustentáveis – sempre com o objetivo de reduzir a dependência de recursos fósseis e minimizar impactos ambientais.

Entre os projetos de maior relevância, destaca-se o desenvolvimento de tecnologias para a reciclagem química de plásticos. A partir dessa tecnologia, pode-se converter lixo plástico em novos produtos químicos, combustíveis e polímeros. Diferente da reciclagem mecânica que apenas reprocessa o material, a reciclagem química possibilita explorar uma gama de produtos. A técnica consiste na decomposição de polímeros em unidades menores, posteriormente reincorporadas às cadeias produtivas. Dessa maneira, a partir da ressignificação de um resíduo, é possível explorar a geração de produtos com menor pegada de carbono associada, diminuindo a pressão sobre recursos fósseis associados às mudanças climáticas.

Em geral, os processos englobam pirólise ou gaseificação, processos em que o material, nesse caso o polímero, são levados a altas temperaturas na ausência do oxigênio. Ambas as abordagens implicam em processo de degradação térmica destes plásticos, requerendo temperaturas que podem variar entre 400°C e 1.200°C e demandando a presença de gases para o processamento, tornando o processo oneroso. Assim, apesar dos benefícios, os altos custos de implementação e operação ainda limitam a difusão da reciclagem química como prática comum.

Nesse contexto, a Wastecraft trabalha com uma alternativa aos processos tradicionais de pirólise e gaseificação e elabora soluções com base no craqueamento catalítico – que é o mesmo processo de quebra dos polímeros, mas, aqui, com a ação do catalisador –, a partir da incorporação de um resíduo da indústria química. A estratégia catalítica é pautada pela quebra controlada das ligações dos polímeros e se demonstra superior no que se refere à eficiência energética, controle de processo e seletividade dos produtos.

Giullia Bertrand, doutoranda em Engenharia de Processos Químicos e Bioquímicos na UFRJ e diretora da empresa, foi a responsável pela idealização e criação da Wastecraft. Toda a formação acadêmica de Giullia foi realizada na Universidade. Segundo ela, a UFRJ desempenha um papel fundamental no incentivo a iniciativas como essa, e a ajudou a desenvolver seu lado empreendedor: “A minha empresa surgiu dentro da UFRJ, sendo fruto dos conhecimentos que a Universidade me deu. No ambiente acadêmico, o potencial criativo e a necessidade de romper os muros da Universidade me criaram oportunidades para o empreendedorismo”. 

slogan “Do resíduo ao recurso” fala muito sobre a essência da empresa. Com a missão de promover uma economia circular, o intuito é tirar o máximo proveito dos materiais já utilizados no dia a dia da sociedade, desenvolvendo, assim, tecnologias que reduzem impactos ambientais e transformam desafios em oportunidades para um futuro mais sustentável. Com soluções de recursos de refino mais limpos, a Wastecraft tem o objetivo de contribuir para um mundo mais verde. 

Transformando desafio em oportunidade

A partir do êxito acadêmico, Giullia e colegas decidiram fundar a Wastecraft para que o conhecimento não ficasse restrito à Universidade. Hoje, além dela, a equipe é formada por Leandro Alves de Sousa, doutor em Engenharia Química, Israel Bernardo de Souza Poblete, também doutor em Engenharia Química e Eduardo Alcantara Soares Queiroz, mestrando em Engenharia de Processos. Todos os envolvidos têm como inspiração fazer com que as pesquisas saiam dos laboratórios e alcancem a sociedade, gerando impacto real. Apesar de os objetivos serem parecidos, cada integrante vem de uma área do conhecimento diferente, o que, na opinião de Giullia, enriquece os resultados alcançados. “Nós unimos nossas melhores características”, afirma Giullia.

O grupo já atua em projetos que vão desde a reciclagem de diferentes tipos de plásticos até o rejuvenescimento de catalisadores, técnica que busca restaurar catalisadores já usados, recuperando parte de sua atividade e prolongando sua vida útil na indústria, reduzindo a necessidade de novos insumos. 

De acordo com Giullia, o impacto positivo vai além da inovação tecnológica. “Estamos falando de transformar problemas em recursos. Isso significa menos lixo, menos contaminação, menor custo social. E, ao mesmo tempo, mais oportunidades para a indústria e mais sustentabilidade para a sociedade.”

Da UFRJ para o mundo

Apesar de ainda não contar com laboratório próprio, a empresa planeja construir sua estrutura independente nos próximos anos. O vínculo atual com a UFRJ é mantido por meio do contrato de incubação com a Inyaga. 

Para Giullia, essa parceria é simbólica: “Eu nasci na UFRJ com a minha graduação, cresci com a pós-graduação, e mesmo seguindo o caminho do empreendedorismo, a Universidade continua fazendo parte da minha jornada. Acho isso muito importante de destacar”.

Com a proposta de unir ciência, inovação e impacto social, a Wastecraft reforça o papel da pesquisa acadêmica como motor de soluções sustentáveis para desafios ambientais e industriais.

Por Ana Clara Araújo. Sob a supervisão da jornalista Vanessa Almeida.