13ª Semana da Consciência Negra do CT destaca a trajetória de lideranças negras e o legado da luta antirracista 

Iniciativa homenageou personalidades que marcaram a história da engenharia, da academia e do movimento negro

Por Clara Kury – Setor de Comunicação da Decania do CT

Em 20 de novembro, o Brasil celebra o Dia da Consciência Negra, data escolhida em memória de Zumbi dos Palmares, líder quilombola que lutou contra a escravidão no Nordeste e se tornou símbolo da resistência e da liberdade. Em reconhecimento à importância histórica dessa data, a Decania do Centro de Tecnologia (CT) da UFRJ realiza, desde 2012, uma série de atividades voltadas à reflexão, valorização da cultura afro-brasileira e à promoção de vozes negras nas áreas científica, acadêmica e política.

Neste ano, entre os dias 4 e 6 de novembro, a servidora Josete Lima, da Decania do CT e organizadora do evento, reuniu na 13ª Semana da Consciência Negra nomes de destaque da comunidade universitária e política para homenagens e debates. O encontro também contou com apresentações, conduzidas por Hyago Carneiro Thomaz, técnico em assuntos educacionais do Museu da Escola Politécnica, e por Heloi José Fernandes Moreira, professor da Escola Politécnica e pesquisador da memória da engenharia brasileira, sobre dois importantes engenheiros que integraram o movimento abolicionista: André Rebouças e Agostinho dos Reis.

Mesa de abertura: Denise Góes (Sgaada/UFRJ), Vanda Borges (Coppe/UFRJ), Walter Suemitsu (Decano do CT) e Emerson Oliveira (IMA/UFRJ) – Foto: CT
Hyago Carneiro Thomaz e por Heloi José Fernandes Moreira – Foto: CT

Rebouças, conhecido entre estudantes de engenharia, foi o primeiro engenheiro negro formado pela Escola Militar. Destacou-se tanto pelo conhecimento técnico em obras de infraestrutura quanto por seu ativismo abolicionista. Já Agostinho dos Reis teve sua trajetória quase apagada da história. Nascido escravizado, conquistou a liberdade ainda na infância e, com muito esforço, tornou-se engenheiro, jornalista, professor e foi diretor interino da Escola Politécnica, alcançando prestígio e reconhecimento social.

Inauguração do Espaço Memória dedicado aos engenheiros e abolicionitas André Rebouças e Agostinho dos Reis – Foto: CT

Na parte da tarde, o mestre de cerimônias Lucas Adenira conduziu as homenagens a cinco profissionais que integram o movimento negro:  Angela Brêtas, professora da Escola de Educação Física e Desportos e Ouvidora da Mulher; Jorginaldo de Oliveira, técnico-administrativo em Educação da UFRJ; Pretta Gonçalves, assistente social e ativista política; Sidney Pascoutto, vice-presidente do Conselho Regional de Economia do Rio de Janeiro (Corecon-RJ); e Norma Santiago, coordenadora de Políticas Sociais do Sintufrj. Cada homenageado compartilhou um pouco de sua trajetória pessoal e profissional, destacando a resistência e o engajamento do movimento negro na universidade e na sociedade.

Pretta Gonçalves, Norma Santiago, Angela Brêtas, Jorginaldo de Oliveira e Sidney Pascoutto: homenageados da 13ª Semana da Consciência Negra do CT – Foto: CT

“Venho contribuindo com a luta antirracista na universidade e agora, junto com Denise Góes, superintendente da Superintendência Geral de Ações Afirmativas, Diversidade e Acessibilidade (Sgaada/UFRJ), estamos desenvolvendo com a Prefeitura de Paracambi um projeto de educação antirracista nas escolas do município. Essa luta tem a ver com uma visão de universidade socialmente referenciada e com levar às crianças negras a possibilidade de sonhar.” — Angela Brêtas.

“É por meio do próprio movimento negro que conseguimos aproximar crianças negras de escolas públicas da universidade. Atividades como a Semana da Consciência Negra proporcionam experiências únicas para esses futuros alunos.” — Jorginaldo de Oliveira.

“Já travamos muitas batalhas históricas e precisamos sempre recordar o que vivemos para continuar a lutar pela construção de um novo futuro. Falamos hoje de André Rebouças, já falamos de Juliano Moreira, de Maria Firmina… precisamos resgatar essas memórias e mostrar que o povo negro tem reis, rainhas e inúmeras personalidades que fizeram muito por este país.” — Norma Santiago.

“Na década de 1970 era muito difícil encontrar estudantes negros na universidade. Ainda não existia a política de cotas e nossa presença era mínima. Temos uma longa caminhada pela frente, e é preciso continuar lutando para ocuparmos todos os espaços.” — Sidney Pascoutto.

“Essa universidade não foi construída para pessoas negras, nem para mulheres negras. Sabemos que a trajetória não é fácil, mas também não é solitária. Caminhamos pela força dos que vieram antes e continuam conosco, mesmo quando não são vistos. A gente só consegue avançar porque não estamos sozinhas. Então hoje, ainda que nos chamem de metidos, ainda que nos chamem de arrogantes, nós seguiremos com a desobediência política, nós continuaremos caminhando de cabeça erguida, cientes de que a história nesse país foi construída e, continua sendo construída pelas nossas mãos. Não existe a história do Brasil sem o povo negro, mas existe a história do povo negro sem o Brasil.” Pretta Gonçalves.

Para encerrar a programação, Heloísa Alvarenga, integrante do grupo Comunidança, projeto de extensão da Escola de Educação Física e Desportos (EEFD/UFRJ), ministrou uma oficina de danças urbanas e apresentou coreografias inspiradas em ícones como James Brown e Janet Jackson, encerrando a semana com arte, valorização da cultura e do movimento negro.

Heloísa Alvarenga, integrante do grupo Comunidança da EEFD/UFRJ
Grupo no encerramento das atividades – Foto: CT