Neste ano não teremos a celebração do carnaval no Rio de Janeiro. Qual o impacto dessa decisão na vida e na rotina da cidade?
Por Vanessa Silva
Exatamente 46 dias antes da Páscoa, celebramos, não só no Brasil, mas em vários lugares do mundo, a festa da carne, ou carnaval. Trazido pelos portugueses, o carnaval no Brasil remonta ao Período Colonial.
Uma das primeiras manifestações carnavalescas foi o entrudo, brincadeira inicialmente praticada pelos escravos, em que as pessoas sujavam umas às outras com lama, água, farinha e até urina. Essa brincadeira foi reprimida com força policial na década de 1840.
Atualmente o carnaval é conhecido como a maior festa popular do país. Alguns acreditam que se trata de uma festa democrática, outros questionam essa integração. O fato é que o carnaval é um grande evento que movimenta as cidades e a economia, gera empregos e arrasta foliões por todo o país. Em 2021, no Rio de Janeiro, assim como em várias capitais que tem um conhecido e esperado histórico de festa, o carnaval não acontecerá. A pandemia de Covid-19 alterou a rotina e os planos de todos. Reunir milhares de pessoas, como costumava acontecer no carnaval do Rio, é impensável neste momento.
Como manifestação cultural, o carnaval apresenta diferentes perfis, de acordo com as regiões do país. Podemos encontrar diferentes tipos de festas, como o frevo pernambucano, os trios elétricos baianos e o carnaval de rua de Minas Gerais. No Rio de Janeiro, as tradições europeia, africana e indígena se misturam. Para a professora Helenise Guimarães, doutora em Artes Visuais da Escola de Belas Artes da UFRJ (EBA/UFRJ) e pesquisadora de carnaval e cultura popular, “O Rio de Janeiro foi o maior difusor do modelo de desfiles de escolas de samba, considerado o maior espetáculo da Terra, e importante captador de recursos pelas indústrias do entretenimento e do turismo. Como manifestação de cultura popular, está inserido também no universo das artes cênicas e do espetáculo, articulando diferentes segmentos da sociedade que buscam os coloridos desfiles de escolas as quais mobilizam apaixonadas torcidas na cidade e no país”.
Os bastidores da festa
A economia do carnaval é tão gigante quanto a festa. Em 2020, segundo dados da Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro, a festa teve mais de 2,1 milhões de turistas na cidade, mais de 10 milhões de pessoas circulando, ocupação hoteleira com média de 93% e R$ 4 bilhões em movimentação econômica.
Por trás dessa economia que pulsa, estão muitos trabalhadores, que, devido à nova realidade gerada pela Covid-19, precisaram repensar suas vidas. Alexandre Rezende é um deles. Aderecista, ele trabalha com carnaval desde a década de 1990, no entanto neste ano viu seus planos virarem pelo avesso. Rezende tinha um ateliê montado, onde costurava e fazia os adereços das fantasias de escolas de samba. Lá ele coordenava uma equipe de aproximadamente 15 pessoas. O cancelamento do carnaval deste ano deixou o aderecista e sua equipe sem uma renda que era tida como certa. “Eu moro com meu pai, não pago aluguel e por isso não estamos passando maiores dificuldades. Mas conheço muitas pessoas que estão quase passando fome e estão com problemas psicológicos como depressão”. Rezende tem buscado alternativas para este momento e tem trabalhado com vendas de cosméticos por meio de revistas, costura de roupas de candomblé e outras atividades. Ele tem dúvidas se haverá carnaval em 2022 e acredita que ainda está muito cedo para pensar no futuro da festa.
Diferente, mas com animação
Foliã de longa data e presença marcada em vários carnavais, a advogada Vanessa Davel também está sentindo a diferença de 2021. Sua rotina de carnaval começa cerca de dois meses antes do início oficial da festa, com as idas ao Saara (um centro comercial no Rio de Janeiro) para preparar suas fantasias, muitas vezes inusitadas. Segundo Vanessa, em um ano comum, nesta época, ela “já estaria na contagem regressiva, com o isoporzinho abastecido, a agenda montada e muita alegria para curtir todos os dias de folia”. Davel, que geralmente abre mão de viajar no feriadão para aproveitar o carnaval de rua da cidade, está sentindo falta da folia em 2021: “Para mim, é a melhor festa do ano e está fazendo muita falta nestes tempos sombrios e pandêmicos”. Contudo, a advogada não desanima e já está preparando a sala de casa para os bloquinhos on-line.
O ano de 2021 não terá festa de carnaval e ainda está sendo assombrado pelo fantasma da pandemia de Covid-19. Mas, quando tudo isso passar, haverá muito confete, serpentina e alegria pelas ruas da cidade. Enquanto isso, não aglomere e confie na ciência!
Fonte: www.ufrj.br