Taxa de modificação causada ao bioma pela ação humana é muito maior que alterações decorrentes de eventos naturais
Por Sidney Coutinho – Fonte: www.ufrj.br
Com a divulgação de dois artigos na revista Science no mês de janeiro, ficou mais evidente que as alterações no bioma Amazônia provocadas pelos seres humanos estão ocorrendo muito mais rapidamente do que as mudanças ambientais naturais do passado. O bioma se torna incapaz de adaptar-se, como já fez no passado entrando e saindo das eras do gelo.
Mais da metade da Amazônia já sofreu interferência humana direta ou indireta, indicando que nesse ritmo a floresta, em vez de servir como um imenso reservatório global de carbono, vai se tornar uma fonte produtora de carbono para a atmosfera. De acordo com os pesquisadores, algumas regiões já fizeram a transição, com a respiração e as queimadas da floresta superando a fotossíntese realizada pela vegetação.
Os ecossistemas amazônicos estão sendo rapidamente degradados pelas atividades industriais. Um total cumulativo de 17% da floresta original já foi desmatado e 14% substituído pelo uso da terra agrícola. Para o professor Jorge de Jesus Picanço de Figueiredo, do Instituto de Geologia (Igeo) da UFRJ, um dos coautores de um dos trabalhos publicados na revista que é referência no meio científico, o artigo “trata de uma questão muito clara: a taxa de modificação causada pela ação humana é muito maior que a taxa de mudança em decorrência de eventos naturais”, disse ele.
A Amazônia é o ecossistema de escala subcontinental mais rico em espécies e abriga mais de 10% de todas as espécies de plantas e vertebrados, que estão concentradas em apenas 0,5% da área da superfície da Terra. A Floresta Amazônica também é um componente crítico do sistema climático da Terra, contribuindo com cerca de 16% de toda a produtividade fotossintética terrestre e regulando fortemente os ciclos globais de carbono e água.
Segundo o professor Figueiredo, dois conceitos são importantes para os cientistas naturais: “runaway point” (ponto de fuga, a partir do qual um processo não tem retorno) e “positive feedback”, que seria um catalisador o qual acelera o desenvolvimento de um processo. Por analogia, imaginemos alguém envergando uma vara de bambu, que pode ser resiliente e retornar ao formato original ou, conforme a força empregada, pode quebrar. A ruptura é o “runaway point”, o ponto de inflexão. “Nós analisamos os dados e concluímos ser possível que já tenhamos alcançado o ‘runaway point’. A questão do artigo é mostrar isto, que não há volta. A partir de agora, teremos um ‘positive feedback’ e os processos vão se potencializar”, afirmou.
A Amazônia está prestes a fazer uma transição rápida de uma paisagem amplamente florestada para uma não florestada, e as mudanças estão acontecendo muito rapidamente para que as espécies, povos e ecossistemas amazônicos possam adaptar-se. A única certeza desse futuro é que a humanidade e seus representantes estão sendo omissos enquanto são atiradas pedras em um vespeiro.