Cálculos essenciais para investigar o passado amazônico

Por meio de sensoriamento remoto e modelagem estatística, estudo encontrou marcas pré-colombianas nas terras do bioma

Por Júlia Mendes – Fonte: www.ufrj.br

As riquezas da Amazônia também se escondem nas raízes das árvores ou embaixo da terra: é o que concluiu um artigo publicado na revista Science. O trabalho encontrou estruturas marcadas no chão do bioma como indicativos da época pré-colombiana. Apesar de ter sido realizado por 230 pesquisadores, seis deles capitanearam o estudo. Nesse grupo-base do artigo, estão integrantes do Instituto de Matemática da UFRJ, responsáveis pelos cálculos da pesquisa. Sem as estatísticas feitas por eles, os resultados não teriam sido encontrados.

Chamadas de geoglifos, as demarcações são figuras geométricas que indicam a existência de povos habitantes da região amazônica antes da chegada dos europeus ao continente, como mostra o artigo. Os geoglifos se estabelecem como “cicatrizes” na floresta, por estarem escondidos pela vegetação, e alguns são áreas delimitadas que ocupam um espaço similar ao de um quarteirão urbano. Além disso, estradas que ligam uma estrutura a outra também foram identificadas. Segundo os pesquisadores, essas marcas sugerem que as populações dali tinham conhecimento para fazer manejo de rios e plantações.

O estudo mostra que há uma alta probabilidade de existirem entre 10 mil e 23 mil estruturas que indicam presença humana pré-colombiana no território da floresta. Esse resultado foi alcançado graças ao modelo desenvolvido pelo estatístico Guido Moreira em sua tese de doutorado na UFRJ, sob a orientação de Dani Gamerman, do Instituto de Matemática, ambos integrantes do estudo. No trabalho, Moreira apresentou uma metodologia de análise de dados de um determinado evento relevante da ecologia, como localizações de ocorrências do fenômeno. Desenvolvido de maneira genérica, o modelo foi aplicado no estudo dos geoglifos para gerar uma estimativa de quantas estruturas similares existem pelo território da Amazônia.

 “Com o modelo, fizemos as análises e verificamos qual a força da relevância dos eventos. Nesse caso, quantas intervenções na terra são esperadas com base nesse modelo. Aí temos aquela distribuição que deu um valor mínimo de 10.000. Isso é uma conta que o computador faz baseado no modelo que desenvolvemos”, explica Gamerman.

Apesar de mapear apenas 0,1% da área da Amazônia, a pesquisa identificou 24 geoglifos, até então desconhecidos, nos estados de Mato Grosso, Acre, Amapá, Amazonas e Pará. Mas, segundo o estudo, a estimativa é que existam muito mais geoglifos no território. Além disso, grande parte do estudo de ecologia e antropologia da pesquisa foi realizada pela Carolina Levis, formada em Biologia pela UFRJ.

O mapeamento foi realizado por meio de uma tecnologia chamada Lidar – sigla em inglês que significa “detecção e alcance de luz”. Um pequeno avião carrega um sensor que emite milhares de feixes de luz por segundo e, assim, mapeia a superfície de forma tridimensional com a ajuda de satélites. É como se toda a cobertura vegetal fosse retirada e apenas o solo e suas marcas ficassem visíveis.