Cientistas da UFRJ apoiam retorno escolar desde que com segurança

Para GT Coronavírus da UFRJ, é preciso alerta para minimização de riscos de exposição

Por Victor França

O Grupo de Trabalho (GT) Multidisciplinar da UFRJ para Enfrentamento da COVID-19 emitiu nota técnica (leia aqui na íntegra) nesta sexta-feira, 30/10, em que pontua que a “reabertura das escolas é necessária e imprescindível e que tão importante quanto, são os pontos que não devem ser ignorados para que o retorno aconteça de forma a minimizar os riscos de exposição tanto das crianças e adolescentes quanto dos professores e funcionários”.

A nota se refere à rede escolar do estado do Rio de Janeiro. “Precisamos agir para que o retorno às aulas aconteça o mais breve e da maneira mais segura possível para alunos e profissionais envolvidos”, afirma o GT.

“Conclamamos as autoridades federal, estadual e municipais a efetuar os procedimentos necessários para o retorno presencial no menor prazo possível, asseguradas as condições de segurança à saúde necessárias a todos os envolvidos e que, neste retorno, todos os alunos tenham acesso de igual modo ao conteúdo do ensino, seja de forma remota ou presencial. A dinâmica do dia a dia da comunidade escolar precisa ser resgatada, sob pena de termos efeitos mais danosos e irreversíveis sobre as perspectivas de vida de toda uma geração, principalmente os mais vulneráveis”, destaca o grupo de pesquisadores.

Por que voltar?

Após examinar dados existentes até o momento, os cientistas do GT avaliam que as escolas não parecem desempenhar importante papel na transmissão do novo coronavírus. “Estudos realizados em fevereiro e março, ainda antes das medidas de isolamento social serem implementadas (portanto sem isolamento) já sinalizavam algumas lições: existem poucos relatos de transmissão a partir de crianças, levando a grandes surtos, especialmente no cenário escolar e a transmissão na comunidade de crianças mais velhas é maior”, afirmam.

Por outro lado, lembram que outros estudos demonstraram que o papel do adulto na cadeia de transmissão na escola é significativamente mais expressivo, como em Singapura, através do estudo de três casos que se apresentaram sintomáticos dentro da escola: duas crianças de cinco e oito anos adoeceram sem transmissão secundária, enquanto um adulto adoeceu transmitindo para outros 16 adultos dentro da escola, que levaram, em seguida, para 11 familiares.

“A experiência internacional nos ensina que existe um caminho para a reabertura de escolas, através da implementação de medidas para minimizar o risco de transmissão viral. Embora a faixa etária pediátrica seja menos suscetível às formas graves da COVID-19, existe risco de a criança ser infectada em qualquer idade, por isso as medidas de mitigação não podem ser negligenciadas sob nenhuma hipótese”, salientam os cientistas da UFRJ integrantes do GT.

Segundo os pesquisadores, após sete meses com as escolas fechadas, é preciso reavaliar os benefícios e os “efeitos colaterais” da medida, como o fato de que a evasão escolar corre o risco de aumentar de forma irreversível.

Coordenado pelo pesquisador Roberto Medronho, o GT sinaliza que “o exemplo no uso de máscaras, higienização das mãos e distanciamento deve ser feito e liderado por professores, pais e responsáveis. Deve também ser enfatizado que ninguém deve ir à escola ao menor sinal de doença”.

Retorno precisa ser seguro, afinal “a pandemia não acabou”

De acordo com a nota técnica, existem três níveis de proteção da comunidade escolar contra a entrada e disseminação do vírus que precisam ser considerados:

  • minimizar a importação do vírus para dentro da escola,
  • minimizar a transmissão do vírus dentro da escola e
  • minimizar o número de contactantes de um caso positivo dentro da escola.

Além disso, as condições para a organização da reabertura das escolas devem priorizar quatro pontos:

  1. a comunicação com a comunidade escolar sobre protocolos e divulgação dos indicadores para suspensão de atividades escolares por aumento da transmissão da COVID -19 no ambiente escolar;
  2. as boas práticas de biossegurança e vigilância em saúde a serem seguidas nas escolas;
  3. ênfase na proteção à vida e na solidariedade resguardando aqueles que possuem fatores de risco conhecidos para evolução grave pela COVID-19 e assegurando as alternativas para atividade de ensino e aprendizado nestes casos e
  4. adoção de procedimentos para casos suspeitos e confirmados de COVID -19 no ambiente escolar.

O retorno das aulas presenciais precisa ser seguro. Por isso, para minimizar a importação e a transmissão do vírus dentro das escolas, os professores da UFRJ enumeram 17 ações que precisam ser tomadas nas escolas:

  1. Deve haver ampla divulgação quanto a reconhecer sinais e sintomas, modos responsáveis de circular pela cidade e a não participar de eventos com outras pessoas caso estejam sob suspeita ou confirmação de infecção pelo novo coronavírus. Torna-se de extrema importância uma maior interação da escola com a comunidade, tanto para a disseminação das informações para minimizar os riscos de infecção como também para que líderes da comunidade possam ter acesso a todos os esforços que estão sendo feitos dentro da escola para que as aulas presenciais ocorram de forma mais segura possível. A promoção da solidariedade deverá ser fator constante para que todos possam cooperar para um retorno às atividades presenciais da forma mais segura possível.
  2. Uso de máscaras: máscaras faciais devem ser usadas por todos os adultos e pelas crianças acima de dois anos de idade segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria. Esse uso deve ser em todo o tempo de permanência no ambiente escolar, bem como no transporte. Também deve haver orientação quanto ao material da máscara, intervalo de troca e cuidados com o armazenamento. Para alguns membros da comunidade escolar, poderão ser necessários outros dispositivos de proteção individual.
  3. Distanciamento: como em todos os processos de flexibilização, medidas devem ser tomadas para que os membros da comunidade escolar (alunos, professores e colaboradores) mantenham o distanciamento social mínimo necessário. Para isso, poderão ser necessárias medidas como, por exemplo, adequação do espaço físico das salas de aula, redução do número de carteiras, rodízio de alunos presenciais, entrada de turmas em horários escalonados, turmas reduzidas, evitar rodízio de salas.
  4. Higienização das mãos: a higienização das mãos deve ser incentivada a todo momento e com o máximo de frequência possível, com água e sabão, álcool em gel (levando em conta o cuidado dessa substância com crianças e outros cuidados cabíveis) ou outro substituto desses produtos, demonstrada sua eficiência.
  5. Evitar levar as mãos aos olhos, boca e nariz, bem como divulgar a etiqueta respiratória a ser seguida.
  6. Atenção especial deve ser dada aos espaços físicos da escola que reúnem professores e funcionários (sala de reuniões, secretarias, refeitórios), evitando aglomeração. Faz-se importante, também, limitar a circulação de adultos dentro da escola, como pais, entregadores e visitantes.
  7. Banheiros devem ser eficientes, limpos e higienizados constantemente e limpeza diária da escola garantida, respeitando as orientações dos protocolos de vigilância sanitária para este estabelecimento no contexto da COVID-19.
  8. Água potável deve ser disponível, evitando-se o uso de bebedouros comuns.
  9. Salas de aula devem ser o mais ventiladas possível e, se possível, a realização de aulas em lugares externos.
  10. Opção de aulas híbridas, nas quais alunos possam acompanhar remotamente quando possível.
  11. Reforçar a recomendação do uso de máscaras e álcool em gel 70% em transportes públicos, assim como a atenção à ventilação.
  12. Possuir regras estabelecidas de conduta diante de casos suspeitos de adoecimento pela COVID-19 e seus contactantes.
  13. Existem grupos da comunidade escolar, sejam alunos, professores ou funcionários que são incluídos nos grupos de risco de adoecimento grave pela COVID-19. Esses alunos, que por razões próprias ou familiares, não retornarem de imediato, devem receber a opção do ensino remoto. Da mesma forma, professores e funcionários dos grupos de risco devem ser direcionados para o suporte remoto das atividades escolares.
  14. Identificar e manter contato próximo com os agentes da vigilância epidemiológica responsáveis pelo território onde a escola está inserida, assim como as unidades de saúde que estão próximas à escola, em especial as dedicadas à atenção básica.
  15. Manter comunicação estreita com a comunidade ampliada para que, junto às unidades de saúde, veiculem-se campanhas para minimização do contágio comunitário e promova-se o engajamento da comunidade na proteção do ambiente escolar.
  16. É muito importante a conscientização de todo corpo escolar em não irem à escola se estiverem doentes, com suspeita ou confirmação de COVID-19 e se estiverem no período de incubação (quarentena), após contato suspeito.
  17. Monitoramento contínuo dos indicadores epidemiológicos que irão orientar possíveis mudanças nos planos de reabertura.

Fonte: www.ufrj.br