Coronavírus: soros produzidos por cavalos têm anticorpos mais potentes

Proteína produzida na UFRJ mostrou-se até 50 vezes mais efetiva que plasmas de pessoas que contraíram a COVID-19

Por Coppe

Plasmas de quatro dos cinco cavalos do Instituto Vital Brazil (IVB) transmitidos com proteína S recombinante do coronavírus produzida no Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe/UFRJ) apresentaram anticorpos neutralizantes até 50 vezes mais potentes contra o novo coronavírus do que os plasmas de pessoas que contraíram a COVID-19.

O resultado foi obtido após 70 dias de testes realizados em maio deste ano. A proteína S foi produzida no Laboratório de Engenharia de Cultivos Celulares (Lecc) da Coppe, sob a coordenação da professora Leda Castilho.

Segundo Castilho, a proteína S apresenta estrutura equivalente à proteína presente na superfície do coronavírus, sendo, portanto, capaz de estimular a produção de anticorpos que reconhecem e neutralizam o vírus.

“A proteína que produzimos na Coppe/UFRJ se mostrou muito efetiva para estimular a produção de anticorpos em cavalos, tendo-se obtido uma quantidade muito maior do que a de anticorpos encontrados em humanos que já contraíram COVID-19. Diante da inexistência de terapias específicas para a doença, os anticorpos de cavalos produzidos pelo IVB são uma grande esperança de tratamento possível e específico para a COVID-19”, afirma a cientista.

Por conta do êxito nos testes, pesquisadores da UFRJ e do IVB solicitaram a patente da invenção do soro anti-SARS-CoV-2, produzido a partir de equinos imunizados com a proteína S. O trabalho científico, que envolve a parceria entre UFRJ, IVB e Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), está no MedRxiv, um repositório de resultados preprint (pré-publicados).

Terapia com soro como opção

A pandemia por COVID-19 resultou, até agosto de 2020, em mais de 700 mil mortes e mais de 19 milhões de casos confirmados no mundo. No Brasil, a triste marca de 100 mil óbitos e 3 milhões de infectados foi atingida nesta semana. Enquanto não há vacinas aprovadas e, mesmo posteriormente, por conta da dificuldade em atender globalmente à grande demanda de vacinação, o uso potencial da imunização passiva por terapia com soro deve ser considerado uma opção.

Pesquisador em laboratório
UFRJ foi umas instituições coordenadoras do estudo | Foto: Coppe/UFRJ

Soroterapia: um tratamento bem-sucedido

O pedido de patente refere-se ao processo de produção do soro anti-SARS-CoV-2 a partir da glicoproteína da espícula (spike) com todos os domínios, preparação do antígeno, hiperimunização dos equinos, produção do plasma hiperimune, produção do concentrado de anticorpos específicos e do produto finalizado, após a sua purificação por filtração esterilizante e clarificação, envase e formulação final.

A soroterapia é um tratamento bem-sucedido, usado há décadas contra doenças como raiva, tétano e picadas de abelhas, cobras e outros animais peçonhentos, como aranha e escorpiões. Os soros produzidos pelo IVB tiveram êxito no resultado de uso clínico, sem histórico de hipersensibilidade ou quaisquer outras eventuais reações adversas. Os estudos clínicos vão acontecer em parceria com o Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (Idor).

Um grupo grande de cientistas participou da pesquisa – todos brasileiros: Amilcar Tanuri, Andrea Cheble Oliveira, Andre Gomes, Carlos Dumard, Leda Castilho, Renata Alvim e Victor Pereira (UFRJ); Luís Eduardo Ribeiro da Cunha, Adilson Stolet e Marcelo Strauch (IVB); Thiago Moreno Lopes (Fiocruz) e Herbert Guedes (UFRJ/Fiocruz).

A pesquisa contou com apoio financeiro da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Rio de Janeiro (Faperj), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep).

Com informações da Ascom/Faperj

Fonte: www.ufrj.br