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Da Engenharia Mecânica para as pistas de Fórmula 1: Anderson Dias desenvolve modelos preditivos para prever o desgaste de pneus dos carros

Convidado do Clube da Escrita do CT, Anderson compartilhou a jornada que o levou de Fortaleza aos bastidores da categoria mais avançada do esporte a motor

Por Clara Kury – Setor de Comunicação da Decania do CT

A engenharia mecânica é um das mais antigas áreas da engenharia, a vertente surgiu como campo de conhecimento durante a Revolução Industrial na Europa do século XVIII e se consolidou como ciência no século XIX. Para Anderson Luiz Dias, técnico em mecânica automotiva pelo Instituto Federal do Ceará (IFCE), formado em Engenharia Mecânica pela Universidade Federal do Ceará (UFC) e atualmente doutorando em Engenharia na Università Degli Studi di Brescia (UNIBS) na Lombardia, Itália, trabalhar na área provou-se um desafio constante. Muito focado e com uma meta estabelecida, foi em 2014 que Anderson decidiu ingressar no universo da Fórmula 1 e realizar um sonho: trabalhar diretamente com carros de alta potência. Apaixonado pelo universo automobilístico desde pequeno, o pesquisador dizia quando criança que seria um “médico de carros”.

Anderson Dias, doutorando em Engenharia na Università degli Studi di Brescia (UNIBS), onde desenvolve modelos preditivos com o suporte de métodos experimentais e inteligência artificial para prever o desgaste de borracha em condições de atrito – Foto: Anderson Dias

Para concretizar o sonho, primeiro, Dias aplicou para o edital da Motorvehicle University of Emilia Romagna (MUNER-Unimore). Esta universidade italiana é resultado da colaboração entre quatro outras instituições locais com as empresas mais prestigiadas da Motor Valley. A região é conhecida como o berço de várias marcas de carros e motos de luxo de alta performance, como Ferrari, Lamborghini e Maserati. Após ingressar e concluir o ensino na MUNER-Unimore, Anderson venceu o edital da bolsa de estudos Formula One Engineering Scholarships, que oferecia um estágio em uma escuderia no campeonato da F1, ganhando duas vezes mais do que a bolsa anterior.

“Esse estágio foi um pouco polêmico, pois ao longo do curso o setor encarregado praticamente esquecia dos estudantes na Itália. Um e-mail levava meses para ser respondido. Isso nunca me incomodou de fato, pois na minha cabeça eu tinha uma prioridade: manter a bolsa da F1 ativa. As bolsas podem ser revogadas se você não atender aos critérios de mérito. Então eu estudei 3 anos sobre pressão, pois aquele estágio era uma oportunidade única,” disse Anderson.

O período na Fórmula 1 se provou desafiador, principalmente para o lado emocional de Anderson. Com o objetivo de transformar um mês em um ano, ele assinou toda a papelada com pressa para começar a trabalhar. Suas funções, a princípio, englobavam o desenvolvimento de estatísticas e probabilidades de corridas passadas da F1 para a formação de novas estratégias, além de pesquisa de ferramentas de inteligência artificial para análise de dados. O que parecia ser um trabalho muito complexo, na verdade era muito simples. Anderson finalizou todas as tarefas que lhe foram designadas para a semana em apenas dois dias.

Painel de sensores utilizado para análise de dados de desempenho dos carros – Foto: Anderson Dias

Esse ciclo foi se repetindo algumas vezes até que ele pediu para ser incluído também em outras atividades, mais especificamente na parte de estratégia relacionada aos pneus dos automóveis. O pedido foi aceito e as esperanças de que fosse ser efetivado aumentaram, contudo, o RH freiou a contratação porque Anderson ingressou justamente como estagiário em outra área, a de estatísticas. Um ano depois ele concluiu seu mestrado e, apesar da contratação não ter se realizado, Anderson considera a experiência extremamente valiosa para sua formação.

Atualmente, o engenheiro finaliza seu doutorado na UNIBIS, onde desenvolve modelos preditivos com o suporte de métodos experimentais e inteligência artificial para prever o desgaste de borracha em condições de atrito, e compartilha sua paixão por carros e velocidade em um site chamado “Carros Infoco”, um espaço dedicado ao conhecimento sobre engenharia, design e curiosidades do setor automotivo. Além disso, também possui um canal no Youtube sobre curiosidades e conteúdos técnicos sobre engenharia automotiva, no qual compartilha sua carreira e jornada no mundo acadêmico e mercado de trabalho.

Baterias para sistemas de propulsão automotivos elétricos e híbridos – Foto: Anderson Dias

“A engenharia mecânica é um curso muito difícil. É muito eclético e cobre diversas áreas importantes, como mecânica dos fluidos, mecânica dos sólidos, dinâmica dos corpos e projeto de máquinas. Todas elas devem ser estudadas com dedicação e seriedade, não é um curso para indecisos. Quem entra nesse curso precisa primeiramente sentar e entender como funciona: sua grade curricular, os programas de extensão e laboratórios. Eu também fui jovem, e nesse período somos muito caóticos e temos dificuldade em planejar o futuro. Entretanto, eu recomendo seriamente aos calouros façam esse esforço”, completou o doutorando.

A engenharia mecânica engloba todos os desafios do mundo da inovação e tecnologia, é uma área chave para as indústrias ao redor do mundo. É uma área que abre muitas possibilidades profissionais, para todo e qualquer estudante trilhar um belo caminho, seja voltado para o setor automobilístico, como Anderson, ou nos muitos outros setores, como aeroespacial, energético, manufaturado e pesquisa.

Anderson Dias participou do encontro online do Clube da Escrita do Centro de Tecnologia, que ocorreu no dia 17 de julho, para falar sobre sua trajetória acadêmica internacional. O encontro foi mediado por Moreno Barros, bibliotecário da Biblioteca do CT, a live está disponível no canal do YouTube do CT, confira abaixo: