Da UFRJ para o mundo

Ex-estudante da UFRJ é a única brasileira selecionada para bolsa da Organização dos Estados Americanos (OEA)

Por Julia Mendes – Fonte: www.ufrj.br

Além de todo o conhecimento adquirido durante o estudo em uma universidade pública, o estudante também leva consigo um sentimento da responsabilidade de retorno deste saber, tanto de volta à universidade quanto ao seu país. É isso que Bruna Gimba, graduada em Relações Internacionais (RI) em 2018 pela UFRJ, afirma quando fala de seu futuro profissional. Aprovada com bolsa de mestrado na Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, e a única brasileira selecionada para o programa de bolsas da Organização dos Estados Americanos (OEA) de 2023, Bruna conta sobre a importância da Universidade nesse processo e da possibilidade de continuar estudando o Brasil, mesmo que em outro país.

Um senso de retorno para a sociedade brasileira

Bruna sempre teve a noção da importância de uma universidade pública na vida de alguém. Filha de um casal em que ambos foram os primeiros da família a ingressar em uma faculdade − inclusive, sua mãe, hoje, é professora da Universidade Federal Fluminense (UFF), a estudante atribuiu à UFRJ a porta de entrada para as novas fases de sua trajetória acadêmica e profissional.

Para além disso, Bruna reconhece que a universidade pública ultrapassa o limite da formação acadêmica e alcança parâmetros de uma formação cidadã, social e intelectual. Isso tudo atrelado, segundo ela, à responsabilidade de retorno de todo esse conhecimento para o Brasil. “Acho que a UFRJ consegue passar muito isso, num senso individual, ou seja, a formação de uma pessoa dentro da Universidade também vem com um senso de retorno para a sociedade brasileira como um todo”, diz.

Trajetória acadêmica

Durante os quatro anos de graduação em RI na UFRJ, a estudante realizou um intercâmbio acadêmico de seis meses na Dinamarca. Segundo ela, o interesse pelo país surgiu das experiências que teve durante seu estágio no consulado dinamarquês do Brasil. No entanto, ela conta que tinha que trabalhar para conseguir sustentar a sua estadia no país, já que sua bolsa no programa não contemplava os custos da viagem. “Geralmente, as pessoas conhecem mais as bolsas que cobrem tudo, não é? Mas também tem esse outro universo de alternativas, que é o trabalho como uma composição ou até como captação de recursos mesmo. E essa foi a minha primeira experiência com um desafio de estudar fora e sem ter recurso inicialmente”, diz.

Foto: Arquivo pessoal

A partir do interesse de unir os conhecimentos de RI com temas voltados para política urbana, Bruna continuou sua trajetória na UFRJ com uma pós-graduação em Cidades, Políticas Urbanas e Movimentos Sociais no Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional (Ippur) em 2019. Além disso, também pelo interesse no tema, integrou a equipe do Programa das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos, o ONU Habitat, durante seis anos, até passar no mestrado.

Sem perder as raízes brasileiras

Apesar da mudança de país, o vínculo com o Brasil permanece, e não apenas o afetivo. Segundo a estudante, a Universidade de Columbia apresenta centros de estudos brasileiros − e da América Latina como um todo −, que permitem aos alunos continuarem estudando e pensando em seus países. No entanto, para além disso, a internacionalista foi a única brasileira selecionada para o programa de bolsas da OEA de 2023, cuja seleção é feita pelo Ministério das Relações Exteriores do Brasil em conjunto com a Organização dos Estados Americanos. De acordo com Bruna, o objetivo do programa é fornecer bolsas interamericanas para fomentar a cooperação internacional de alunos e, principalmente, a intenção de contribuir de volta para o próprio país.

“Um dos requisitos da bolsa é que você tenha muito claro essa intencionalidade de ‘devolver algo’ para a política nacional brasileira e, claro, considerando a importância da cooperação americana. Então fiquei bem contente de conseguir uma bolsa que tem esse enfoque de retorno para o Brasil”, conta.

Acesso à informação e privilégio

Devido aos altos custos com os estudos, nos Estados Unidos é comum que os alunos acumulem mais de uma bolsa, além de outras fontes de custeio, como trabalho dentro e fora da universidade. É assim que Bruna conseguirá se manter durante os dois anos de curso no país. Ela conta que continuará neste processo de captação de bolsas que possam ajudá-la ainda mais com os custos de vida e de estudos e que a própria Universidade recomenda diferentes programas de auxílio ao longo do curso.

Para a estudante, a troca com pessoas que já passaram por experiências parecidas foi essencial para que conseguisse entender todo o processo, pois as informações não são facilmente encontradas e condensadas. Por isso, aos estudantes que têm interesse no assunto, ela incentiva a procurar e conversar com pessoas já experientes, ou que estão passando pelo mesmo processo, e se coloca à disposição para tirar dúvidas de quem precisar.

Bruna reconhece que não foi apenas o acesso à informação que a fez chegar ao local que está hoje. O privilégio de permanecer durante todos os anos na UFRJ e, posteriormente, estudar para adentrar no mestrado foram fundamentais em sua trajetória. Segundo ela, os processos de candidatura para o exterior são extremamente caros e, infelizmente, ainda são elitizados. No entanto, ela conta que já existem bolsas que contemplam diferentes grupos minoritários, bem como programas de mentoria que auxiliam estudantes desses grupos a conseguirem bolsas, como o programa de preparação da Fundação Estudar e o Alcance.

*Sob supervisão de Vanessa Almeida.