Com mudança de perfil, Universidade tem estado cada vez mais diversa
Por Conexão UFRJ – Fonte: www.ufrj.br
Como resumir o corpo discente da maior universidade federal do Brasil em alguns números? A Universidade Federal do Rio de Janeiro é uma instituição com mais de 100 anos de história, por onde já passaram ex-alunos notáveis, como os escritores Jorge Amado e Conceição Evaristo, o arquiteto Oscar Niemeyer, os médicos Oswaldo Cruz e Carlos Chagas, além do matemático Artur Ávila, primeiro latino-americano a receber a Medalha Fields, prêmio oferecido a matemáticos com até 40 anos e considerado equivalente ao Nobel.
Com 200 cursos de graduação, presenciais e à distância, é daí que vem a maior parte dos estudantes da Universidade: mais de 53 mil, segundo dados fornecidos pela Reitoria. Já a pós-graduação conta com cerca de 15 mil alunos, entre especialização, residência médica, mestrado e doutorado. Os dados fornecidos pelo Visualiza UFRJ, projeto realizado pelo Fórum de Ciência e Cultura (FCC) da Universidade, ajudam a ter um panorama ainda melhor do perfil dos estudantes que integram a instituição.
Após pesquisa realizada para o centenário da UFRJ, o Visualiza mostra, por exemplo, que o número de alunos pretos e pardos aumentou cerca de 400% de 1993 para 2019, muito em virtude da implementação da política de cotas raciais e sociais, ocorrida em 2013, a partir da Lei Federal nº 12.711/2012. Os dados indicam ainda que foi apenas a partir do primeiro semestre de 2017 que a Universidade passou a ter estudantes cuja renda fosse de até um salário mínimo, também após as novas políticas públicas.
Utilizando a base de dados do Sistema Integrado de Gestão Acadêmica (Siga), informações oriundas do Sistema de Seleção Unificada (Sisu) e do questionário socioeconômico preenchido pelos estudantes no ato da matrícula, o Visualiza UFRJ ainda é uma versão beta, com dados incompletos e lacunas a serem preenchidas. Segundo o próprio site do projeto, a declaração de cor passou a ser obrigatória no Siga apenas em 2019. Logo, as informações que temos envolvem alta taxa de “não declarados” nessa modalidade, cerca de 20%. Da mesma maneira, os dados sobre renda também só passaram a ser obrigatórios para estudantes que ocupam vagas da política de ação afirmativa em 2019.
Perfil mais diverso
Apesar de ser um passo inicial para ajudar a entender quem compõe a Universidade, ainda não é possível traçar um perfil específico, apenas dizer que ao longo dos últimos anos a UFRJ tem se mostrado mais diversa. Com cerca de 9 mil vagas oferecidas por ano, o Sisu também foi responsável pela expansão geográfica do corpo discente, que, atualmente, não está presente apenas nas cidades fluminenses, mas abrange alunos de outros estados também. Hoje 30% dos estudantes de graduação são de fora do município do Rio de Janeiro, enquanto 15% são de outros estados, aproximadamente.
Em meio a tantas transformações, não basta que a Universidade apenas seja diversa. Ela precisa dar conta das necessidades desses estudantes. Com base em levantamento feito nos últimos quatro anos pela Pró-Reitoria de Políticas Estudantis (PR-7), constatou-se que o número de vagas oferecidas no alojamento ainda é inferior ao de alunos que solicitam o benefício: a Vila Residencial, que fica na Cidade Universitária, acomoda 245 estudantes.
Flávio Herculano, discente de Letras Português/Espanhol, é um dos moradores do alojamento. Natural de São Paulo, ele é negro, tem 23 anos e está no 8º período da graduação. Bem decidido, conta que escolheu a Universidade por ser a melhor federal do país, mas que, ainda assim, não é fácil lidar com a distância da família e as pressões cotidianas acadêmicas.
“Sobreviver à universidade pública não é fácil, ainda mais em cursos que são de períodos integrais. Para administrar a faculdade, muitas vezes tendo que se virar para conseguir se manter nela, tem que ter muita disposição, força e vontade de mudar de vida. Gostaria de parabenizar todos os estudantes, pois só quem sobrevive sabe o perrengue que é”, reforçou o paulistano.
Priscila Francisco, moradora do bairro de Vila Sarapuí, no município de Duque de Caxias, e aluna de licenciatura em Dança, concorda com a dificuldade de se manter nos estudos, porém celebra a possibilidade de estar no lugar em que sempre se imaginou estudando. Com 32 anos, ela está agora no 2º período e busca experimentar as oportunidades que a UFRJ oferece.
“Ouvi uma frase no acolhimento de 2022.1 que foi repetida muitas vezes por diversos alunos e professores: ‘Aproveite tudo que a UFRJ pode te dar/oferecer!’ E tenho feito isso, através de serviços, projetos, aulas e afins. Apesar de ser lindo e motivador estar onde se quer estar, isso também tem seu preço, e ele é bem alto. Porém, não tira o brilho nem o sabor de ter conseguido, finalmente, entrar aqui e de ir fazendo o que pode ser feito”, comemora a aluna.
Este texto revela o entendimento de que a diversidade possa ser, cada vez mais, uma das características do corpo discente da UFRJ. Neste Dia do Estudante, 11/8, revela-se aqui o desejo por mais entrevistas e fotografias, perfis variados desses alunos, diferentes cursos, cores, rendas e o que mais for possível.