Vacinação, novas variantes, pico de casos, uso de máscaras: muita coisa mudou, mas o mundo segue lidando com os desafios da covid-19
Por Carol Correia – Fonte: www.ufrj.br
Em 11/3/2020 a Organização Mundial de Saúde (OMS) decretou o início da pandemia de covid-19. Desde então, o Sars-CoV-2 fez mais de 6 milhões de vítimas fatais – 650 mil apenas no Brasil – e parou o mundo, pressionando-o para uma grave crise econômica e ética. Dois anos se passaram e a sociedade ainda vive a mesma pandemia e se questiona: isso tudo vai acabar?
Para muitos parece que já acabou. Com o avanço da vacinação – que incontestavelmente teve excelentes resultados – e a diminuição do pico da variante ômicron, autoridades vêm flexibilizando medidas de proteção, como o modelo presencial de trabalho e estudo, o uso de máscaras, a capacidade dos espaços e a apresentação de passaporte vacinal. A cidade do Rio de Janeiro, por exemplo, liberou, em 7/3, o uso de máscaras em todos os espaços, deixando a cargo do indivíduo a decisão sobre a utilização do equipamento. A prefeitura também afirmou que, assim que o índice da dose de reforço chegar a 70%, a população será liberada do uso do passaporte vacinal.
Segundo Roberto Medronho, epidemiologista e coordenador do Grupo de Trabalho Multidisciplinar de Enfrentamento à Covid-19 da UFRJ (GT- Coronavírus), a vacinação e as medidas de segurança diminuíram muito os efeitos da covid-19, permitindo algumas flexibilizações. O GT apoia a retomada das atividades na instituição, respeitando algumas medidas para maior segurança da comunidade universitária.
“É fundamental que nos espaços fechados todos utilizem máscaras e que também sejam asseguradas uma boa ventilação dos ambientes e a cobrança do certificado de vacinação. Os estudos mostram que o indivíduo estar vacinado é o mais importante, mas, mantendo o uso de máscara e exigindo o comprovante, acreditamos que as salas poderão ser ocupadas com a totalidade dos alunos”, explica.
Para o docente, ainda é cedo para retirar por completo a exigência do uso do equipamento de proteção individual nas áreas fechadas, como diversos municípios vêm fazendo, e se trata de uma decisão muito mais política do que científica. Passado pouco tempo do Carnaval, momento onde mesmo com restrições as aglomerações tendem a aumentar, ainda não é possível ver o impacto total do período no número de casos. “O grau de circulação do vírus ainda está um patamar acima do que deveria e nós temos metade da população sem a dose de reforço”, sinaliza.
Pandemia dos invisíveis
Países como França, Reino Unido e Brasil estudam rebaixar o status de “pandemia” para “endemia” em seus territórios devido à diminuição de casos, mesmo sem a aprovação da OMS. Para Medronho, só a OMS – por seu caráter global, abrangendo diversos continentes – pode dizer quando começa e quando termina uma pandemia.
Diferentemente do que a sociedade enfrenta no momento com a covid-19, que está espalhada por diferentes regiões do mundo e ainda não alcançou um platô por tempo suficiente, uma endemia é uma ocorrência habitual de uma doença ao longo do tempo em uma região específica e dentro de um limite esperado.
Por exemplo, uma virose respiratória que persiste pode ter pequenos casos durante o ano, mas, no inverno, ter um aumento dentro de um limite esperado que é calculado por especialistas. Porém, o fato de ser uma endemia não significa que não haverá impactos no sistema de saúde ou mesmo mortes.
O professor cita como exemplo a tuberculose, uma doença endêmica, mas que tem no mundo um milhão e meio de mortes por ano, e a malária, com mais de 600 mil óbitos no mesmo período. Ambas impactam especialmente países e regiões periféricos.
“O número de óbitos dessas doenças não impacta tanto porque se dá nos invisíveis, nas pessoas pobres, negras, em países subdesenvolvidos e com poucas condições socioeconômicas. Mudar a categorização para endemia não significa que nós estamos livres de eventos graves e óbitos.”
Segundo o site Our World in Data, apenas 13,7% da população dos países de baixa renda tomou pelo menos uma dose de uma das vacinas contra a doença, permitindo que sejam não só regiões com altos índices de contágio e óbitos, mas, também espaços para o surgimento de novas variantes que podem ser mais transmissíveis e, até mesmo, mais letais.
“Este não foi o primeiro coronavírus que atingiu os humanos e é bem possível que não seja o último. Muito provavelmente ele se tornará sim endêmico, como as outras doenças citadas, aumentando de maneira sazonal e necessitando de vacinação regular”, considera Medronho.
Outro normal
Para o professor, o modelo atual da sociedade não é sustentável, explorando os recursos naturais e promovendo uma grave desigualdade social. Segundo Medronho, o sistema capitalista, baseado na acumulação e exploração, precisa ser pautado e revisto.
“Na verdade, o que eu sempre falo é que nós não precisamos de um novo normal, mas de um outro normal para um outro mundo que há de vir, mais fraterno, solidário, sustentável e saudável”, conclui.