Extração só dos frutos pode ajudar na conservação de espécie em paisagens fragmentadas da Mata Atlântica
Por Sidney Coutinho – Fonte: www.ufrj.br
Nativa da Mata Atlântica, a palmeira Juçara (Euterpe edulis) é uma das estrelas da floresta, tanto pela importância para a fauna como pelo que representa comercialmente devido aos frutos e ao caule. A espécie quase entrou em extinção, o que motivou leis específicas para proibir o corte em áreas de conservação para a extração do palmito, iguaria muito cobiçada. Para verificar quais são os riscos para populações nativas da palmeira em áreas fragmentadas e fora da proteção legal, pesquisadores do Programa de Pós Graduação em Ecologia do Instituto de Biologia da UFRJ (IB/UFRJ) realizaram simulações de colheita do palmito e dos frutos.
De acordo com a professora Rita Portela, do Departamento de Ecologia do IB, estudar a relação comercial e extrativista dentro de áreas particulares é relevante, pois volta e meia há uma proposta de retirar a Euterpe edulis da lista de espécies em extinção. “É possível entender que os produtos florestais sejam extraídos sem comprometimento da função ecológica ou da própria existência do bioma. Assim foram analisados diversos cenários: sem colheita, colheita de palmito de indivíduos reprodutivos, colheita de palmito de indivíduos grandes e só a colheita de frutos”, explicou ela.
Houve uma taxa de crescimento populacional positiva durante o período de amostragem, quando não foi detectado o corte de indivíduos da espécie nos pequenos fragmentos florestais com área menor que 57 hectares (cada hectare corresponde a 10 mil metros quadrados, o equivalente a um campo de futebol oficial). Já nas simulações de exploração, as populações apresentaram variação ampla (de 14 a 83%) na tolerância de corte em cenários que envolviam só os indivíduos reprodutivos, aqueles com maior tamanho e fontes de obtenção do palmito. “A tolerância a certos graus de exploração dos indivíduos para a extração do palmito pode parecer algo bom. Entretanto, devemos considerar que muitas das populações da espécie estão hoje extremamente reduzidas, contando com apenas algumas dezenas de indivíduos por hectare. A remoção de um indivíduo reprodutivo ou pré-reprodutivo da população pode acarretar situações demográficas drásticas no futuro e levar à extinção local da espécie.”
Quando se ampliou a exploração das palmeiras, com extração também de exemplares na fase pré-reprodutiva, ficou mais evidente o risco de corte, pois a variação populacional não ultrapassou de 17%. Diante do cenário, os pesquisadores concluíram que, caso houvesse a remoção total dos indivíduos em ambas as fases, reprodutiva e pré-reprodutiva, o tamanho populacional reduziria à metade, levando a consequências críticas para a manutenção das populações da espécie. “Com o uso de Modelos de Projeção Integral (IPMs), percebemos que só os frutos poderiam ser retirados de maneira sustentável, para não reduzir o tamanho das populações ao longo dos anos. São ferramentas robustas que permitem realizar com precisão as análises e a elaboração de estratégias de uso sustentável de recursos naturais”, disse Portela.
Embora os frutos sejam importantes para aves e mamíferos do bioma, a exploração de frutos mostrou ser sustentável em qualquer intensidade de remoção dos cachos, uma vez que não leva à morte dos indivíduos pelo corte. “Ainda não estudamos as interações com a fauna de forma aprofundada, mas sabemos da importância que as palmeiras têm para a provisão de recursos de uma região. Também não temos dados que demonstrem perda da variabilidade genética de pequenas populações, o que pode aumentar o risco para a existência das espécies”, alertou Rita Portela.
Segundo a pesquisa, a exploração apenas dos frutos apresentou baixa influência sobre a taxa de crescimento populacional. Assim, mesmo com a remoção de grandes quantidades do produto para o consumo humano, a espécie ainda consegue persistir no ambiente. “Porém, atenção deve ser dada ao destino das sementes após a retirada da polpa. As sementes devem ser retornadas às mesmas populações de onde seus frutos foram coletados”, concluiu a professora do Instituto de Biologia.