Ciência sem Fronteiras possibilitou mais de 78 mil bolsas para graduação
Por Tassia Menezes – Fonte: www.ufrj.br
Realizar um intercâmbio cultural é um sonho para muitos jovens e estudantes. Praticar outra língua, conhecer uma nova cultura e incrementar o currículo são experiências que geram amadurecimento e desenvolvimento pessoal para aqueles que as vivenciam. No entanto, a pandemia da covid-19 não diminuiu apenas o número de viagens turísticas, mas impactou também esse setor.
Há diversos formatos de intercâmbio: os voltados para pessoas que têm interesse em estudar e trabalhar; aqueles para quem deseja apenas aprimorar um outro idioma; e ainda opções para quem busca unir a experiência internacional com a acadêmica. Dados da UFRJ atualizados em fevereiro de 2022 mostram que há aproximadamente 53 mil estudantes de graduação e 16 mil de pós-graduação na Universidade. Desses, atualmente 455 estão em intercâmbio. A instituição conta, também, com 665 estudantes estrangeiros.
Um dos programas que colaborou para esse tipo de vivência foi o Ciência sem Fronteiras (CsF), vigente entre os anos de 2011 e 2017 para os cursos de graduação das universidades federais. Ao longo desse período, o Ministério da Educação investiu R$ 13,2 bilhões, incluindo também as bolsas de pós-graduação e estagiários de pós-doutorado. Entre 2011 e 2016, quase 104 mil bolsas foram concedidas, sendo 78,9 mil delas de graduação sanduíche no exterior.
O ex-aluno de Engenharia de Petróleo da UFRJ Adriano Guedes foi um dos beneficiados do programa. Em 2014, ele teve a oportunidade de, após diversas etapas que incluíam testes de proficiência e muitas documentações, ser selecionado para cursar parte da sua graduação na Universidade de Montana Tech, na cidade de Butte, nos Estados Unidos. Lá, ele permaneceu durante nove meses e, hoje, tem um diploma duplo e experiências extras na sua trajetória.
Desafios e aprendizados
Butte é uma cidade pequena, com apenas 36 mil habitantes, bem ao norte dos EUA, quase fazendo fronteira com o Canadá. Por isso, Guedes, nascido e criado no Rio de Janeiro, conta que vivenciou muitas novidades: o frio, diferenças culturais, hábitos e alimentação eram muito distantes da sua realidade. Segundo ele, os principais desafios que enfrentou foram a distância da família e a necessidade de lidar com tudo sozinho, incluindo as questões financeiras. Ainda assim, apesar do que era imaginado por ele, a recepção dos nativos foi bem positiva e ajudou para que a adaptação fosse a mais natural possível.
Atualmente no mercado de trabalho como gerente de contas regional de uma empresa multinacional, ele conta que ter vivido um intercâmbio foi decisivo na sua seleção no processo: por demonstrar um certo nível de adaptabilidade necessário para sua função e também pela experiência acadêmica adquirida. “Fez muita diferença pro mercado de trabalho e faz até hoje. Assim que eu voltei, um professor chinês entrou em contato comigo pra defender uma tese sobre Geologia na Universidade Federal Fluminense (UFF) por intermédio de uma amizade desenvolvida no intercâmbio. Graças ao programa, eu defendi uma tese a nível de doutorado num congresso internacional. Por essas e outras, o mercado te olha de outra forma”, conta.
Do ponto de vista acadêmico, além de perceber outras maneiras de desenvolver seus aprendizados, o engenheiro também voltou com um diploma a mais, devido às altas notas alcançadas. Equivalente ao Coeficiente de Rendimento (CR) que temos aqui, o Grade Point Average (GPA) é uma média das notas dos estudantes e ajuda a medir o desempenho deles. Guedes recebeu um documento especial, em virtude de alcançar um bom GPA, fazendo com que seu nome entrasse, inclusive, para uma lista específica do reitor da Universidade.
Defensor do intercâmbio e do programa CsF, ele acredita que a experiência internacional enriquece a pessoa como um todo, por fazê-la retornar ao seu país de origem com um olhar mais amplo e, ainda, mostrar para o mundo uma imagem diferente do que é o brasileiro. “É algo que engrandece os dois lados. Essa falta pode nos prejudicar porque a gente se fecha. No Ciência sem Fronteiras, nós nos comprometíamos a ficar no Brasil por pelo menos dois anos, o que fazia com que a gente aprendesse lá fora pra investir aqui”, defende.
Para aqueles que ainda sonham em realizar uma experiência similar, ele incentiva, apesar do momento inoportuno. “Não deixe essa ideia morrer, acreditamos que essa onda vai passar. É algo que vale muito a pena, muda a sua cabeça como pessoa e como cidadão, te fortalece. Você vai crescer como pessoa porque é uma experiência que não se traduz em palavras. Só vivendo na pele”, conclui.