Estudo nacional avaliou deficiências de vitaminas e minerais em crianças menores de 5 anos e produziu evidências científicas sobre anemia e deficiência de vitaminas A, B12, D e zinco
Por Victor França – Fonte: www.ufrj.br
Dados inéditos sobre anemia e deficiência de vitaminas e minerais em crianças de até 5 anos estão entre os resultados do Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil (Enani-2019), coordenado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Um dos resultados da pesquisa aponta que a insuficiência de vitamina D nessa faixa etária não é um problema de saúde pública no país e que a deficiência de vitaminas e minerais reflete as desigualdades socioeconômicas do Brasil. As conclusões foram apresentadas em webinário na última terça-feira, 19/10.
“A prevalência da insuficiência de vitamina D em crianças menores de 5 anos é de 4,3% no Brasil: 0,9% no Nordeste, 1,2% no Norte, 2,2% no Centro-Oeste, 6,9% no Sudeste e 7,8% no Sul. Os dados sugerem que a suplementação universal desse micronutriente, para todas as crianças, não é necessária. Casos específicos devem ser avaliados e acompanhados individualmente”, explica o coordenador geral da pesquisa, Gilberto Kac, professor titular do Instituto de Nutrição Josué de Castro da UFRJ.
O estudo aponta que a deficiência de vitamina B12 em crianças menores de 5 anos é de 14,2% no Brasil, com grande diferença entre as macrorregiões: 28,5% no Norte, 14% no Sudeste, 12% no Centro-Oeste, 11,7% no Nordeste e 9,6% no Sul. As desigualdades também aparecem no recorte econômico e no quesito raça/cor. A proporção de crianças nessa situação é maior nas famílias mais pobres, classificadas no primeiro quinto do Indicador Econômico Nacional (18,8%) e entre as crianças pretas (16,7%) e pardas (15,2%).
“Os dados refletem a situação socioeconômica das famílias brasileiras e corroboram o cenário de insegurança alimentar descrito pela pesquisa. As fontes de vitamina B12 são exclusivamente alimentos de origem animal – carne bovina, suína, fígado, vísceras e peixes. A dificuldade de acesso a esses alimentos pode estar relacionada à alta prevalência de deficiência de vitamina B12 nessa faixa etária”, esclarece Kac.
Em relatório publicado em setembro, o Enani-2019 revelou que quase metade das famílias brasileiras com crianças menores de 5 anos (47,1%) vive em algum grau de insegurança alimentar.
Anemia e deficiência de vitamina A
A pesquisa mostra, ainda, que a anemia em crianças brasileiras de até 5 anos foi reduzida à metade nos últimos 13 anos: de 20,9%, em 2006, para 10,1%, em 2019. O cenário foi registrado em todas as regiões brasileiras, com exceção do Norte, que apresentou aumento de 6,6% nesse período, subindo de 10,4% em 2006 para 17% em 2019. A prevalência da anemia por deficiência de ferro em crianças até 5 anos foi de 3,5%, em âmbito nacional. A maior prevalência foi registrada na região Norte (6,5%) e a menor, na região Nordeste (2,7%). Assim como a anemia, a anemia por deficiência de ferro é mais comum entre crianças de 6 a 23 meses (7,9%) do que na faixa etária de 2 a 5 anos (1,3%).
A prevalência da deficiência de vitamina A nessa faixa etária foi de 6% no Brasil, uma redução relativa de 65,5% em relação a 2006, quando se observou prevalência de 17,4%. As maiores prevalências de deficiência de vitamina A foram encontradas nas regiões Centro-Oeste (9,5%), Sul (8,9%) e Norte (8,3%) e a menor foi na região Sudeste (4,3%).
Ineditismo
Kac destaca que, até então, havia poucos dados sobre a avaliação de biomarcadores do estado nutricional de micronutrientes em crianças de até 5 anos.
O Enani-2019 visitou mais de 12 mil domicílios brasileiros entre fevereiro de 2019 e março de 2020. Participaram do estudo 14.558 crianças menores de 5 anos, de 123 cidades, em todos os estados do país e no Distrito Federal.
A pesquisa foi encomendada pelo Ministério da Saúde e coordenada pela UFRJ em parceria com a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), a Universidade Federal Fluminense (UFF) e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), com financiamento da Coordenação Geral de Alimentação e Nutrição do Ministério da Saúde e gestão do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Com informações da assessoria de imprensa do Enani.