Na aula inaugural, Denise Pires de Carvalho defendeu a valorização da pesquisa e da formação acadêmica como papel estratégico para o avanço científico nacional
Por Vitor Ramos – Fonte: www.ufrj.br
O Auditório Professor Rodolpho Paulo Rocco (antigo Quinhentão), do Centro de Ciências da Saúde (CCS) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), foi palco da aula inaugural que simboliza o início das atividades acadêmicas da pós-graduação em 2025. A aula, que aconteceu na terça-feira, dia 8/4, foi ministrada pela professora, ex-reitora da UFRJ e presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), Denise Pires de Carvalho.
Intitulada Ciência, Tecnologia e Inovação como Motor do Desenvolvimento Brasileiro: A Importância da Pós-Graduação, a palestra trouxe reflexões sobre o impacto da pós-graduação no avanço científico do país, mostrando o histórico do desenvolvimento dos estudos científicos no Brasil, além de utilizar dados para a visualização do atual cenário de programas, pesquisas e bolsas.
O reitor da UFRJ, Roberto Medronho, abriu a cerimônia destacando a importância de se investir em educação, ciência, tecnologia e inovação. “Certamente, sem educação, sem ciência, tecnologia e inovação, nós não conseguiremos fazer o que a nossa sociedade precisa, especialmente em um país com uma desigualdade vergonhosa, especialmente em um país que precisa repensar o seu modelo de financiamento”, afirmou Medronho.
A pós-graduação no Brasil
Com dados informativos relevantes e a ajuda de gráficos, Denise lembrou que a ciência brasileira, instituída e institucionalizada, possui menos de 100 anos, com a primeira tese de doutorado da UFRJ sendo concluída em 1966. A presidente da Capes contou que os cursos de pós-graduação começaram a aumentar no país a partir de 2004, quando foi criado o Reuni, Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais, no primeiro governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Contudo, ela destacou que a partir de 2016 se observou a redução na velocidade da criação de cursos.
“É necessário que haja implantação de cursos de pós-graduação cada vez que uma nova universidade é criada, um novo campus é instituído no sistema federal. E essa diminuição da velocidade foi decorrente de vários fatores. O principal deles foi o subfinanciamento do sistema, que começou em 2016”, salientou Denise.
A palestrante mostrou que, até 2010, apenas Rio de Janeiro e São Paulo eram responsáveis por mais da metade da produção científica nacional. No entanto, esse panorama começou a mudar após o processo de interiorização das universidades promovido pelo Reuni. “Temos o restante do Brasil se acendendo em termos de produção científica. É possível fazer com que o país se desenvolva como um todo. Nós vamos virar essa página do subdesenvolvimento”, afirmou ela.
Universidades públicas produzindo ciência
Também foi possível observar que o ambiente das universidades públicas destoa do restante das instituições de educação quando o assunto é o ensino e a vivência da metodologia científica. A professora mostrou que é necessário atrair estudantes desses locais para que sejam iniciados na ciência: “A maior parte dos cursos de graduação do país não tem bolsas de iniciação científica. Oitenta e quatro por cento das matrículas são de instituições federais e estaduais. O mestrado precisa ser visto de uma maneira diferente no nosso país. Um momento de efetivamente divulgarmos a ciência entre todos aqueles que são graduados”.

Bolsas
O atual modelo de distribuição de bolsas também foi pauta no encontro. Denise Carvalho salientou que são necessárias ações estratégicas para a concessão dessas bolsas, que vão além da distribuição dos programas institucionais. Uma dessas ações foi colocada em prática em 2024 pela Capes, ao conceder também um percentual das bolsas dos programas de excelência para as pró-reitorias. “Queremos premiar a excelência. Nas universidades que obtiverem um número maior de programas de excelência, o pró-reitor terá um número maior de bolsas a serem distribuídas”, explicou.
A presidente da Capes afirmou ainda que a extensão também terá papel fundamental no âmbito da pós-graduação, beneficiando programas que atuem nesse sentido. “Quanto mais bolsas nos programas Proex, mais a pró-reitoria terá bolsas a serem distribuídas em projetos e programas institucionais. A UFRJ, neste ano, é a universidade que mais recebe bolsas de pró-reitoria. Houve essa política implantada em 2024 e o pró-reitor fez um excelente trabalho, distribuindo essas bolsas”, lembrou.
Denise detalhou, ainda, que o planejamento junto ao governo federal é para que o número de concessões de bolsas siga crescendo, tendo como base o ano de 2014, quando 42% dos mestrandos e doutorandos tinham bolsa Capes. “A média nacional em 2023 está em 37%, tanto para mestrado quanto doutorado. Agora as de doutorado estão se aproximando dos 42% e as de mestrado ainda estão em 34%”, informou.
A palestrante destacou que a Capes observa três dimensões para a concessão das bolsas. A primeira é a excelência, sendo observada por meio das notas dos programas. O segundo fator do modelo é a localização do programa. Se o curso está em um município de baixo IDH, por exemplo, e for avaliado com nota 6, ganhará mais do que um curso com a mesma nota localizado em uma cidade com o IDH maior. A terceira dimensão é a titulação, sendo observada a média de titulados em quatro anos.
Realizações e projetos
“No atual governo, a partir de 2023, tivemos o reajuste das bolsas de pós-graduação, o aumento no quantitativo de bolsas de mestrado, doutorado e pós-doutorado, dentro do que podemos, embora saibamos que ainda não é suficiente. Aumentamos o quantitativo de bolsas no exterior, aumentamos a mobilidade acadêmica entre países da América Latina e Caribe, aumentamos o número de vagas e os cursos da Universidade Aberta do Brasil, que volta a ser financiada”, concluiu Denise.
A presidente da Capes também agradeceu a participação de docentes da UFRJ na construção do novo Plano Nacional de Pós-Graduação (PNPG) e demonstrou diversas parcerias com outras instituições para alavancar ainda mais o desenvolvimento dos estudos científicos no Brasil, além de destacar iniciativas que a própria Capes vem desenvolvendo.