Violência de gênero é tema de livro da Editora UFRJ

Em um momento de ataques aos direitos das mulheres, Editora UFRJ lança livro organizado por professora da Escola de Serviço Social

Por Conexão UFRJ – Fonte: www.ufrj.br

Nós, mulheres, gostamos de pensar que estamos cada vez mais perto da igualdade de gênero. Mas a realidade é bem mais dura que isso. Em apenas uma semana, uma série de notícias chocou pela maneira como os corpos femininos são desrespeitados no Brasil e no mundo. De ataques ao aborto legal a casos de assédio sexual, diversas situações movimentaram o debate na sociedade, mostrando quão tênues são os direitos que mulheres e pessoas com útero têm sobre seus próprios corpos.

Uma citação simbólica de Simone de Beauvoir, usada como bandeira nos últimos dias, define bem o momento que vivemos: “Nunca se esqueça de que basta uma crise política, econômica ou religiosa para que os direitos das mulheres sejam questionados. Esses direitos não são permanentes”. No Brasil, os direitos femininos são recentes. Apenas no século XIX as meninas puderam começar a frequentar escolas e, posteriormente, faculdades; os direitos políticos, por sua vez, como o voto e a organização em partidos, chegaram no século seguinte; e o mais marcante: a igualdade legal entre homens e mulheres só foi garantida na Constituição Federal de 1988.

Lançado em junho pela Editora UFRJ, o livro Violência sexual contra a mulher: abordagens, contextos e desafios é fruto de reflexões desenvolvidas no Grupo de Pesquisa e Extensão Prevenção à Violência Sexual da UFRJ, coordenado pela organizadora da obra, Ludmila Cavalcanti. A publicação traz uma coletânea de textos que apresentam resultados de pesquisas acadêmicas em conexão com os movimentos latentes na sociedade. Os autores – pesquisadores das Ciências Humanas e da Saúde Coletiva vinculados a diferentes institutos – abordam uma série de percepções da violência sexual no âmbito das relações sociais e chamam atenção para a importância da consolidação de políticas públicas que rompam com as desigualdades e o desrespeito às diferenças.

Livro foi lançado em junho pela Editora UFRJ | Imagem: divulgação

Para saber mais sobre a obra, o Conexão UFRJ conversou com a professora Ludmila Cavalcanti, da Escola de Serviço Social. Confira a entrevista completa a seguir.

Conexão UFRJ: Como surgiu a ideia para o livro?

Ludmila Cavalcanti: O Grupo de Pesquisa e Extensão Prevenção à Violência Sexual, da Escola de Serviço Social, completou, durante a pandemia de covid-19, 20 anos de atividades de ensino, pesquisa, e extensão na área da violência sexual contra a mulher, uma das expressões mais cruéis da violência de gênero.

Participam do nosso grupo docentes, estudantes de graduação e de pós-graduação, pesquisadores externos e profissionais inseridos nas políticas públicas e em variadas instituições.

Entendemos que o enfrentamento à violência sexual é uma questão de interesse público, e, nesse sentido, a produção de uma coletânea consiste numa estratégia potente para a reflexão e incorporação do tema nas ações das políticas públicas, além de contribuir para a melhoria das ações profissionais. Então convidamos as autoras e os autores que fizeram e fazem parte da nossa trajetória, que prontamente aceitaram nosso convite.

Conexão UFRJ: Qual é a proposta do livro?

Ludmila Cavalcanti: O livro apresenta a contribuição de pesquisadores das Ciências Humanas e da Saúde Coletiva vinculados a diversos centros de pesquisa, tendo como categoria central as diferentes expressões da violência de gênero – em especial a violência sexual contra a mulher – a partir de distintos contextos e variadas perspectivas teóricas e metodológicas. Os 33 autores e autoras do nosso livro compartilharam suas pesquisas em diálogo com o tema da violência sexual.

Conexão UFRJ: Como o livro é organizado?

Ludmila Cavalcanti: Esta coletânea, além do prefácio e da introdução, está estruturada em quinze capítulos, divididos em três conjuntos. O conjunto “Violência sexual e formação profissional: desafios ao enfrentamento” é composto pelos cinco primeiros capítulos. Neles, as universidades assumem um papel indispensável na abordagem do tema e na produção de conhecimentos capazes de responder às dificuldades de operar diante de um problema de alta magnitude. O segundo conjunto, “Pistas teórico-práticas para entender a violência mal-dita”, é formado por cinco capítulos que se referem aos aspectos conceituais constitutivos desse campo teórico. O terceiro e último conjunto, composto por outros cinco capítulos, aborda diferentes expressões da violência de gênero nas políticas públicas – tema que, por um lado, vem alcançando certa visibilidade nesse âmbito, mas, por outro, depara-se com limites em relação ao planejamento e organização da rede de serviços.

Conexão UFRJ: Você acredita que haja alguma saída para a situação de violência em que vivem as mulheres no Brasil?

Ludmila Cavalcanti: Os diferentes textos aqui apresentados apontam a centralidade do tema da violência sexual como uma das expressões da violência de gênero, especialmente dirigida à mulher, no Brasil e no mundo. Trata-se de um problema social e uma das principais formas de violação dos Direitos Humanos. O reconhecimento da violência sexual como questão de interesse público requer o envolvimento de toda a sociedade para reduzir sua incidência, cabendo destacar neste cenário a contribuição das universidades e institutos de pesquisa no incremento da consciência de cidadania de gênero. Assim, espera-se que a publicação desta coletânea – à disposição de estudantes, pesquisadores, profissionais e gestores –, possa se constituir numa estratégia potente para a reflexão e incorporação do tema nas ações das políticas públicas, bem como contribuir para a melhoria das ações profissionais.

Ludmila Cavalcanti é assistente social e advogada pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), com doutorado em Ciências da Saúde pelo Programa de Pós-graduação em Saúde da Criança e da Mulher da Fundação Oswaldo Cruz e pós-doutorado em Saúde Coletiva na Universidade de Fortaleza. É docente da Escola de Serviço Social da UFRJ, onde coordena o Núcleo de Estudos e Ações em Políticas Públicas, Identidades e Trabalho e o Grupo de Pesquisa e Extensão Prevenção à Violência Sexual da UFRJ. É, também, colaboradora do Laboratório Interdisciplinar de Estudos e Intervenção em gênero da UFRJ.

Saiba mais sobre o livro Violência sexual contra a mulher: abordagens, contextos e desafios no site da Editora UFRJ.