Exposição interativa celebra o centenário da Rádio Sociedade
Por João Guilherme Tuasco – Fonte: www.ufrj.br
Com textos, fotografias, vídeos, aparelhos antigos, documentos e gravações da época, a Casa da Ciência da UFRJ sedia a exposição Rádio Sociedade: 100 anos de rádio no Brasil, que conta a história da emissora pioneira na divulgação científica do país. A mostra destaca a importância da rádio, sua programação variada e as transformações que ocorreram desde seu surgimento há cem anos, em 1923. A exposição, que é gratuita, fica aberta ao público até 8/10 e conta com acessibilidade através de audiodescrição e Libras.
A iniciativa é uma realização do Instituto Nacional de Comunicação Pública da Ciência e Tecnologia, da Casa de Oswaldo Cruz, da Folguedo e da Rádio MEC, que cedeu exemplares de radiotransmissores e montou, na exposição, um estúdio de gravação, no qual o visitante pode criar seu próprio programa de rádio com a ajuda dos mediadores. Além disso, é possível tirar fotos em um painel instagramável, que se assemelha a um postal carimbado com o selo da Rádio Sociedade.
Criada por cientistas e intelectuais da Academia Brasileira de Ciências, o objetivo da emissora era aproximar a população das Ciências da Natureza, da educação e da cultura. A programação contava com palestras, aulas de línguas, músicas e curiosidades científicas para crianças. Segundo Luísa Massarani, curadora da exposição junto a Ildeu de Castro, a história da emissora tem “imensa relevância tanto para a história do rádio quanto para a história da ciência e da divulgação científica de nosso país”.
Em 1925, a rádio recebeu o físico Albert Einstein e, em 1926, a química Marie Curie. Os dois ministraram palestras com tradução simultânea. Para Marya Luísa, estudante de licenciatura em Química no Instituto Federal do Rio de Janeiro (IFRJ) que visitou a exposição, é “legal ver a divulgação científica além da sala de aula e saber que pessoas importantes da área vieram para o Rio, como a Marie Curie, que traz a questão do empoderamento feminino na ciência”.
Educação escolar, técnica e cultural
Segundo Edgar Roquette-Pinto, um dos criadores da Rádio Sociedade, “o rádio é a escola dos que não têm escola” e, por isso, a emissora tinha aulas de diferentes disciplinas escolares, como Literatura Portuguesa e Inglês, visando à democratização da educação. Cursos de capacitação profissional em radiotelefonia e telegrafia também eram transmitidos, assim como palestras de diferentes temas. Um dos conteúdos sonoros da exposição é uma palestra sobre feminismo da década de 1920. Além desses assuntos, a rádio tocava músicas clássicas e populares. Entre os grandes marcos da emissora, está a veiculação de uma ópera completa, consagrando-se como a primeira da América do Sul a fazer esse tipo de transmissão.
A Rádio Sociedade criou também uma programação infantil veiculada sempre ao final da tarde. Sob o comando da “Tia Beatriz”, filha de Roquette-Pinto, o Quarto de hora infantil explicava “tim-tim por tim-tim” das curiosidades científicas do dia a dia, como o porquê de as folhas serem verdes. O pioneirismo em ter algo para esse público surpreendeu os curadores da exposição: “Achamos muito interessante existir o programa infantil e mais interessante ainda o fato de existir a transcrição de alguns episódios. Por isso decidimos dar um destaque para essa programação”, afirma Luisa Massarani.
Rádio MEC
Na década de 1930, o Governo Vargas regulamenta a radiodifusão, dando enfoque às rádios com fins comerciais, o que põe em risco o funcionamento da Rádio Sociedade. Com isso, Roquette-Pinto decide entregar a emissora ao Ministério da Educação e Saúde em 1936, desde que mantenha sua vocação educacional, cultural e científica. Assim, surge a Rádio MEC, que tem destaque na exposição e pode ser ouvida ainda hoje. Maiara Sales, estudante do IFRJ que visitou a Casa da Ciência, conta que seu pai escuta a emissora: “Às vezes, eu entro no carro e está tocando música clássica porque ele coloca na Rádio MEC”.
Casa da Ciência
Em 1926, como parte do Hospício Nacional dos Alienados (atual Palácio Universitário da UFRJ), surge o Pavilhão Alaor Prata para tratar de pessoas com tuberculose. Anos depois, é desativado e utilizado pela Escola de Educação Física e Desportos da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Em 1995, o espaço dá lugar à Casa da Ciência que, por meio do pilar da pesquisa, ensino e extensão, abriga atividades culturais para a popularização da ciência, como exposições temporárias.
As visitações para a mostra Rádio Sociedade: 100 anos de rádio no Brasil acontecem de terça a sexta, das 9h às 20h, e nos finais de semana e feriados, das 10h às 17h. O agendamento de grupos deve ser feito pelo site da instituição.